08/01/2010

Sobre Lula, O Filho do Brasil - parte II

Impressiona em “Lula, o Filho do Brasil” o uso de recursos os mais batidos para emocionar o espectador médio. Impressiona, inclusive, pela incompetência. Qualquer um que tenha visto qualquer novela reconhece seus truques.
Dona Lindú, mãe de sete filhos, abandonada pelo marido no sertão mais pobre do Brasil, levantando o recém-nascido Lula (o oitavo filho) e dizendo “você vai se chamar Luís Inácio”. A seqüência da morte de Lurdes e do bebê é um desperdício da carga dramática de uma situação como essa. A sequência onde Lula vai ao cemitério se despedir de Maria de Lurdes e diz: “era um menino” é um acinte. E nem mesmo a que mostra como Lula, fazendo hora extra no trabalho e, por cansaço e excesso de dedicação, se acidenta e perde o dedo, consegue ser convincente. Manipulada com inabilidade extrema, o que se perde nessa seqüência é a possibilidade de transmitir dor, desespero, sofrimento, como deve realmente ter acontecido. E fica um gostinho de tentativa de se martirizar o acidentado.
Outro ponto marcante em “Lula, o Filho do Brasil” é a situação da mulher. Existem basicamente quatro mulheres presentes na trama. Dona Lindú, nitidamente colocada como a mãe protetora, acolhedora, compreensiva, lutadora e forte, com a sabedoria de quem sofre com a pobreza mas percebe a grandeza do mundo. Há algo de Nossa Senhora em Dona Lindú. Há, mesmo, durante a seqüência do enterro de Dona Lindú, um flashback de Lula onde as imagens remetem claramente à Pietá, acolhendo em seu peito o filho sofredor.
Há também Maria de Lourdes, primeira mulher de Lula e que morreu no parto. Cuja únicas aparições são na primeira paquera, no momento do pedido de casamento, na lua de mel e em um, digamos, momento “pré-sexo-selvagem” na laje da casa nova, enquanto ela lava roupa. E, claro, na seqüência do parto que termina com a morte de Maria de Lurdes e o filho.
Outra mulher muito presente é Marisa Letícia. A hoje Primeira Dama é retratada como mulher forte, “viúva que cria o filho sozinha”. Sozinha, mas morando com os pais. E, depois, ela só aparece aplaudindo o marido no Sindicato, e de mãos dadas com ele no enterro de Dona Lindú. Ou pouco mais que isso.
Da quarta mulher não se diz o nome. Mas Lula, ainda jovem e solteiro, dança com ela na noite, em um bar ou algo que o valha. Com direito às piadinhas normais de qualquer homem solteiro. No mais, aparecem de relance a irmã de Lula e mais uma ou duas mulheres, como a professora dele. E só.
De resto, não há em quase duas horas de filme uma mulher retratada de maneira diferente do clichê. Parece que na vida do homem Lula nunca houve uma mulher fora dos perfis “mãe/dona de casa/ professora primária/mulher pra casar/mulher pra dançar na noite”.

* aguente firme: no próximo post, o trecho final da série sobre "Lula, O Filho do Brasil"

6 comentários:

lola aronovich disse...

O problema, pra mim, nem é que as mulheres do filme sejam todas clichês (embora seja um erro grave o filme nem mencionar a Miriam, porque é uma personagem que muita gente conhece, e que deveria ser abordada). Se pensar bem, qual personagem homem se sobressai? Como o roteiro é muito raso e superficial, acho que nenhum, nem mesmo o protagonista. Pra mim, o mais marcante é mesmo o pai, que, apesar de aparecer pouquíssimo, lembra um vilão do Dickens (e representa o "lado do mal" do Lula; ele diz que tudo que herdou de maldade foi do pai). O irmão sindicalista, que é o personagem masculino que tem mais destaque depois do Lula, é raso. Tudo é raso. Vc não pensa que vai encontrar de novo o taxista Alvaro, sogro da Marisa? Não acontece. O sindicalista corrupto, o Feitosa, simplesmente desaparece. Sei que não é uma minissérie (e a vida do Lula bem que merecia uma minissérie), mas do jeito que essas coisas pipocam no roteiro, fica extremamente superficial. E, claro, apolítico.

Phylippe disse...

Nunca na história da minha cabeça passou a vontade de ver este filme.
E os posts indicam claros motivos pra eu continuar longe dele.

Ida disse...

Pergunta que não quer calar: ele morre no final? Não? Então não vou assistir.
É isso.

Anônimo disse...

Olá!

Qual seu e-mail de contato?

Abraço,
Cristiano
contato@webreside.net

oseguinte disse...

Não vou comentar o post; só vim dizer que o "André" era tu msmo ;)

:*

Anônimo disse...

André,
Voltei a alimentar o meu blog.
Abraços,
Albert