30/12/2008


Este ano eu quero que você olhe para o céu. Mais de uma vez. E outra vez. E de novo.
Este ano eu quero que você cante no chuveiro. Dance na sala. Faça shows de air guitar em frente ao espelho. Execute moonwalks em cima da cama. Rebole na cozinha.
Este ano eu quero que você durma sem roupa.
Este ano eu quero que você beba vinho barato, sem frescura. Quero que você beba o vinho mais caro, sem culpa. Quero que você coma o PF do botequim mais blergh e o prato mais sofisticado, feito pelo melhor chef no restaurante mais uau de Paris. E que os dois sejam as melhores coisas que você já comeu na vida.
Quero que você voe. De avião. De asa-delta. Sem sair da cadeira. Apenas, voe.
Quero que você roce os pés nas nuvens, e que meta seu sapato mais caro na lama, e que enrole as calças até os joelhos e pise na areia, e que pule corda na grama com os amigos, e que você levante os pés e deixe o sol queimar o lado de baixo de seus dedos.
Quero que você ande mais. E mais devagar. Que seu pescoço gire mais e você veja o que acontece à sua volta. Quero que você olhe para baixo e veja como é o seu caminho. E que você olhe para a frente. E continue vendo o seu caminho. E que você continue andando, sem ver muito bem o que tem atrás do morro. E que, o que é que tem?, de vez em quando você arrisque um caminho novo, que te leve até onde você nunca imaginou.
Este ano eu quero que você mergulhe de cabeça e encoste, de leve, a ponta do nariz no fundo do mar.
Este ano quero que você rasgue fotos de quem, do que, de quando e de onde não interessem mais. Quero que você fotografe sem câmera, e que registre o sorriso de quem você gosta, e o cheiro do lugar que você adora, e a cor do ar que você melhor respira.
Este ano, quero que a língua que te faz esquecer daquele negócio, como é que se chama, acho que é mundo, não é?, lamba o seu corpo todo dia.
Este ano, quero que você escute música. Mais música. Mais música. Mais música. Mais música. Melhor: este ano, seja A música.
Por favor, saia do emprego. E arrume um trabalho.
Quero que você chore no cinema. Quero que você coma pipoca no cinema. Quero que você tenha dor de barriga de tanto rir no cinema. Quero que você saia do cinema, mas que o cinema nunca saia de você.
Este ano quero que você ande de roda-gigante.
Este ano quero que você pule de pára-quedas.
Este ano quero que você dê cambalhotas, três ou quatro por dia.
Este ano quero que você roa as unhas.
Este ano quero que você ande de meias no asfalto.
Este ano quero que você tome sorvete. Muito sorvete. Com calda de chocolate.
Este ano quero que você pule de barriga na pilha de ovos no supermercado.
Este ano quero que você aposte que consegue ir mais longe do que todo mundo pisando só nos ladrilhos pretos da calçada.
Este ano quero que você passe noites sem dormir porque tem vontade, e durma o máximo que puder se é isso que lhe faz feliz.
Este ano quero que você, apenas, sorria.
Este ano quero que você faça o que for preciso, o que for imprescindível, o que for inimaginável, e o que for o que você acredita que seja o mais importante para sua vida deixar de ser boa e passar a ser espetacular, sensacional, formidável, inacreditável.
Este ano quero que você faça tudo isso. E mais. E mais. E mais.
E que me leve, sempre, com você.
(ilustração: Vânia Medeiros)

22/12/2008

Minha participação no Interferências vai ao ar terça-feira, dia 23 de dezembro, na Tv Antares - Canal 2.
Eu acho que é às 18:30.
(correção: é às 19h)

* aproveitamos e fizemos algo tipo uma promoção "grave 1, assista 2": também apareço no programa Mosaico, no mesmo canal, na sexta-feira (dia 26), às 7 da noite. Participei do quadro "Admirador Secreto". Se quer saber quem é meu "admirado secreto", veja lá.


I love Greenpeace.

19/12/2008

Hoje gravo participação no programa Interferências, da Tv Antares.
Quando souber dia e hora de exibição, te conto.

17/12/2008

Hoje gravo, via internet, participação para o programa Urbano, do Multishow.
Quando souber dia e hora de exibição (a princípio, no primeiro programa de 2009), conto pra você.

16/12/2008



As mais recentes notícias, da BBC via UOL, dão conta de que Muntadar al Zaidi, o jornalista iraquiano que jogou os sapatos em George W. Bush, está preso, foi torturado, "teve a mão e as costelas quebradas por conta do espancamento e teria sofrido sangramento interno e um ferimento no olho".
Claro. A política truculenta, estúpida e belicista de Bush não iria perdoar tamanha humilhação sem arreganhar os dentes e massacrar "mais um" iraquiano.
É de se esperar que o mundo, que se divertiu ontem com a cena e se sentiu pelo menos um pouco representada naqueles sapatos voadores, ajude a preservar a vida de Muntadar. Se ele violou leis, códigos de ética ou o que quer que seja, que seja punido. Mas não torturado e, quem sabe, morto.
Mr. Bush viola regras, leis, códigos de ética, resoluções da ONU, mente e assassina milhares de iraquianos e está lá. No máximo, tendo de se desviar de um par de sapatos.
O mundo riu da humilhação de Bush. Não pode virar as costas para Muntadar.

15/12/2008

Phyllipe e ela falaram que tinham certo medo de que eu assistisse “Na Natureza Selvagem”. Porque podia ser que, sem mais nem menos, meu lado Alex Supertramp se manifestasse e eu a esta altura estaria por aí fodendo o sistema de algum jeito pouco ortodoxo. Mas cá estou eu. Buscando a maneira de, sim, conciliar a fodeção do sistema com o pagamento das pensões alimentícias de minhas filhas. O que é um dilema atroz, já que as pimpolhas precisam comer, vestir, usar aparelho nos dentes, fazer faculdade e não têm nada a ver com essa minha missão foderosa. Então, toda segunda-feira eu sucumbo à tentação e troco a vontade de invadir as casas alheias e trocar os móveis de lugar, fodendo as certezas e convicções da classe-média-ascendente-e-com-vontade-de-ter-um-honda-civic, por cento e doze suspiros matinais de impaciência e resignação. Aos 40 anos, talvez seja mesmo o mais sensato. E é engraçado a gente falar em sensatez enquanto o mundo vive a era da arquitetura da estupidez. Quer dizer, não sei se todo o mundo, mas pelo menos uma parte significativa dele e, muitas vezes creio eu, a parte que manda. Há no planeta todo um movimento surdo e manipulado em prol da idiotice. Tenho certeza disso. Alguma mente superior e doentia promove movimentos subreptícios que elevam a imbecilidade ao status de cult, de pop, de movimento de massa. Nem sei. Nem sei se é algo assim tão recente, vide tantos exemplos em eras e eras e eras passadas. O problema é que, em eras passadas, não havia televisão, nem internet, e a estupidez poderia levar meses, quem sabe anos, para atravessar o oceano, ou dias para ir de uma rua a outra na mesma cidade. A arquitetura da estupidez faz, por exemplo, que famílias inteiras comemorem a “vitória” de uma criança em uma eliminatória para participar de um concurso de soletrar no programa do Luciano Huck. Eu vi na tv. Lágrimas pela vitória de uma menina em uma eliminatória regional. A criança acerta meia dúzia de palavras e ganha cem mil reais. Eu tinha Ditado, na escola. Acertava quarenta, cinqüenta, sessenta palavras por dia. E hoje um menino acerta vinte palavras, na tv, e ganha cem mil reais. O Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, paga 30 mil reais. O Prêmio Nobel, que Saramago ganhou, paga aí dois milhões de reais. Quer dizer: o menino soletra vinte palavras e ganha 5% do que um Prêmio Nobel de Literatura ganha. Soletrando. E assim vai. Se a gente for dar exemplos, não faz mais nada na vida. Aos amigos e a ela, digo que continuo aqui, balançando a cabeça e suspirando, nas manhãs de segunda-feira. Mas lembro que a paciência vai acabando, e que as meninas vão ficar adultas. Sensatez tem limite. O sistema que se cuide. Quem quiser participar, que se cadastre no guichê ao lado e aguarde.

11/12/2008

Beirut - Elephant Gun

Porque estou, mesmo, encantado com Capitu.

10/12/2008


Luiz Fernando Carvalho é um gênio.

03/12/2008

Passe agora mesmo no Intacta Retina.

02/12/2008

Pequeno Guia das Mínimas Certezas – Capítulo V

- para ter certeza da profundidade de um umbigo, deite-o de forma que ele olhe para cima e veja estrelas. Permite-se: cama, sofá, mesa de cozinha, pia de banheiro, areia de praia, tábua de passar ou lombo de cavalos brancos (nunca os marrons com manchas na testa). Estique a língua (a sua) de maneira que, de sua ponta (da língua) à parte em que ela se encontra com o lábio superior, sejam 5 centímetros. Insira a ponta da língua no referido umbigo e, mentalmente, conte os segundos. Apure os ouvidos. Você deverá escutar um riso. Se em menos de 3 segundos, muito raso. Se em mais de 3 segundos, demasiado profundo. Se em exatos 3 segundos, inspire profundamente, feche os olhos e mergulhe: é seu o reino dos céus.

- para ter certeza de manter a amizade com os sorrisos, ferva por 10 minutos em 150ml de água de chuva: 18 pétalas azuis de flores à sua escolha, mais três gotas de sangue arterial, mais duas barras pequenas de chocolate meio-amargo. Após a fervura, derrube duas lágrimas em um copo com o desenho do Rei Leão e misture com a água fervida. Ponha o copo embaixo da cama em noite de lua e deite. Você devera sonhar com mar, estrelas e crianças. Caso não ocorra, compre cobertor vermelho e saco de risadas.

- para ter certeza da duração de um suspiro, feche as janelas, tranque as portas, desligue a tv, fique em pé no centro da sala e feche os olhos. Rodopie mentalmente cantarolando I wanna hold your hands. Repita o refrão doze vezes. Abra os olhos. Conte a freqüência cardíaca. Igual ou acima de 120 bpm, o suspiro terá longa vida. Abaixo, repita o procedimento. Após duas repetições, se a freqüência se mantiver abaixo de 120, vá sem companhia ao cinema e coma balas de goma sabor morango.