04/01/2010

“Toda vez em que penso na minha vida política, penso no Partido dos Trabalhadores, que foi a minha primeira e única experiência de vida partidária”.

Esta frase é de Lula, em 2000, no texto “PT:20 Anos de Cidadania”, que está publicado no portal da Fundação Perseu Abramo (link no final do post).
Logo abaixo, outra afirmação: “Ajudei a fundar o PT com o objetivo de criar uma alternativa concreta de cidadania para milhões de trabalhadores brasileiros. E para mudar o Brasil. Fiz isso juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais, lideranças rurais e religiosas”.
Um dos fatos que mais me chamaram a atenção em “Lula, o Filho do Brasil” foi a omissão do momento da fundação do Partido dos Trabalhadores por Lula e outros brasileiros ilustres. Em nenhum momento é citado o desejo de se criar um partido de defesa dos trabalhadores. Nem mesmo de passagem. Não é possível afirmar que essa ausência pode ser explicada pelo fato de o filme se localizar em um período anterior a esse momento. O filme mostra a prisão de Lula, a morte de Dona Lindú, a ida de Lula ao enterro da mãe. E, por sinal, termina aí. Era maio de 1980. O PT foi fundado por Lula antes disso. A primeira reunião histórica do PT aconteceu em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo. Lula já falava do PT em 1978. Mas não há absolutamente nenhuma referência ao partido, ou à intenção de que ele fosse criado. Visivelmente, e sabe-se lá porque, o Partido dos Trabalhadores foi omitido do filme que conta a história de Lula. Só por isso já é possível fazer uma severa crítica a ele (ele, o filme), supostamente biográfico. Mas pode-se fazer outras.
Por exemplo, a ausência de referências a Lurian, nascida em 1974, antes de seu casamento com Marisa Letícia. Portanto, dentro do período compreendido pelo filme. São um romance e uma filha já assumidos por Lula, que causaram toda aquela celeuma com a baixaria de Fernando Collor nas eleições de 1989 mas que, hoje, não representam nada demais. Mais ausências? Aonde estão os intelectuais que também fundaram o PT e tiveram participação decisiva na carreira do político Lula? Antônio Cândido, Frei Betto, Mário Pedrosa, Moacir Gadoti, Lélia Abramo, Sérgio Buarque de Holanda, Apolônio de Carvalho? A única vez, no filme, em que se faz referência a qualquer intelectual é em uma cena onde Lula afirma: “até que para sociólogos vocês são bons desenhistas”. Ou seja: de certa maneira, há aí algo de preconceito. Ou de manifestação de um “viés” populista, buscando afastar do metalúrgico Lula qualquer possibilidade de aproximação com uma ideologia de origem esquerdista clássica. Aliás, não há, em todo o filme, qualquer traço de posição ideológica do político Lula. Ou há: por duas vezes, em situações distintas, ele repete: “Não sou comunista”.
Muito pouco para a biografia do maior líder sindical do Brasil e maior símbolo da esquerda brasileira.

* esse post continua amanhã
** texto de Lula no Portal da Fundação Perseu Abramo

5 comentários:

Joca Oeiras disse...

Querido André:

Estava muito curioso por saber do filme e, que bom, fui informado pela pessoa certa. Excelente a sua apreciação crítica com gosto de quero mais.Rapaz, toda hora vc me dá provas contundentes do grande cara que é, um desses tipos essenciais que me tornam mais feliz apenas por existirem.

beijos e abraços
do Joca Oeiras, o aqnjo andarilho

Alline disse...

André, eu não iria ver o filme, mas agradeço teus comentários, que reforçam minhas opiniões nada alvissareiras sobre a pessoa.

Anônimo disse...

Desculpa aí, mas vou esnobar: melhor é discutir pessoalmente esses assuntos (e muitos tantos mais) com essa pessoinha que escreveu isso ai e muito mais.
Awow, sempre.
Samária

~*Rebeca*~ disse...

Oi André, voltei, aliás voltamos. O amor lá pelo Néctar sempre grita mais alto. Sempre que chego no seu blog, e leio sobre política, lembro do seu outro blog com tanto sentimento. Adorava andar por lá!

Noite de luz, querido amigo.

Rebeca


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lola aronovich disse...

Ah, bom saber, André, que vc concorda comigo! Pois é, eu, que não voto apenas na pessoa, mas no partido (já que ninguém governa sozinha), senti muita falta de uma referência ao PT no filme. Lula e PT são indissociáveis. Nem Lula existe sem o PT, nem o PT existe sem Lula. E aí no filme vemos um Lula que começa sua vida sindical totalmente sem querer, e nunca tem uma epifania, uma descoberta do que deseja como líder. O filme foca numa pessoa alienada, não num gênio político, que é o que Lula é na vida real. Ansiosa pra ler sua segunda parte!