30/03/2009

Quem tem uns 40 anos e foi adolescente em Belo Horizonte lembra das Vassouras Princesinha. Mais pra frente, quem é de Teresina lembra do Sensacional. Lembra também do Raul Lopes. E do Agenor, o Agenor. Pena que não tem nada disso no You Tube. Mas agora temos o Urocenter. Um jingle que toca incessantemente nas rádios locais. Que virou videozinho fake e está aí embaixo. Me incomoda o diálogo travado agora há pouco com um amigo, que me contou quem fez o jingle. Quem fez nem vem ao caso. Mas esse amigo disse: “eu acho que propaganda boa é a que gera resultado”. E disse ainda: “nem sempre um texto com uma linguagem mais rasteira quer dizer que o resultado tem que ser ruim (muito pelo contrário), às vezes uma coisa bem lapidada passa despercebida quando uma coisa muito simples gera resultado”. Está claro o ponto de vista dele. Mas o problema é que ele é empresário da comunicação. E, quando alguém que é empresário de comunicação defende o tosco como alternativa viável para gerar resultados comerciais, é hora de questionar alguma coisa. É o caso da gente questionar e se questionar. Onde está a falha (se é que há uma)? Em nós, que achamos aquilo muito ruim, ou em quem acredita que aquilo tem algum valor e traz resultados? No público, que desaprendeu a gostar do bom e ama o ridículo? O que é “resultado”? Como se mede esse “resultado”? Onde está esse resultômetro? E que momento se dá essa ruptura entre nós e os outros? Lembro que Sthefany, a nossa diva, esteve no programa do Gugu. E há quem diga e apregoe que criticar os vídeos da Sthefany é preconceito de um grupo que não quer a inclusão das camadas “menos cultas” da sociedade no mundo digital bláblábláblá. Pode ser. Eu não sei se é. Quem sabe? Mas tenho medo dessa legitimização do tosco como instrumento de ascenção social, inclusão digital ou qualquer coisa do tipo. Me lembra o “sou pobre mas sou limpinho”. Não sei porque, mas lembra. Porque não me parece razoável que o “popular” tenha de ser tosco, feio, grosseiro. Porque quem defende o tosco como manifestação da cultura popular é que está difundindo preconceito, já que considera o mal-feito o único modo de existir da cultura popular. Partindo desse pressuposto, Cartola seria compositor da Calypso. Pois. Queria que algum estudioso da história da arte me dissesse se há algum momento na história do Homem em que a busca pelo belo, pelo harmonioso, pelo sutil, perdeu a guerra contra o abjeto. Por favor, ninguém venha exemplificar com a menina pichadora da Bienal porque aí é outra coisa completamente diferente, e eu estou do lado dela, a pichadora. É, já tentaram comparar, e é ridículo. Enfim, mas o assunto nem é arte, já que publicidade/propaganda não é arte. Apesar de usar elementos de arte e, por isso, ser tão perigosa quando mal utilizada. Então, é o caso da gente pensar. Porque do pensar em como mudar o que somos “enquanto profissionais” (texto à moda PT) depende nossa sobrevivência. Aliás, é o que mais tenho tentado fazer: chamar a mim e aos colegas para esse pensar. Porque eu, eu mesmo, acho que nem sei de muita coisa. Mas pode ser que tentando a gente consiga. Só pra constar, antes de se falar em “resultados”: Vassouras Princesinha, Raul Lopes, Jelta (a do Sensacional) e Agenor Artefatos estão fechados. Quebrados. Não existem mais. Não será o caso desse laboratório, espero. Espero mesmo.

* E nem vamos falar aqui dos aspectos técnicos do tal jingle, nem da coisificação da saúde, nem de outras coisas que vêm por aí quando eu tiver tempo, saco e conseguir organizar algum pensamento a respeito.
Faz uns 8 ou 9 anos que tenho blog. Sou das primeiras levas de blogueiros, eu acho. Mas nunca quis fazer um blog sobre publicidade/propaganda. Nem quero. Sempre quis viver além da minha profissão. Conto nos dedos as vezes que postei algo sobre publicidade/propaganda em um blog. Nos últimos dias tem sido freqüente. Desculpas a quem não gostar. Não sei se é uma tentativa de purgar. De tentar acreditar outra vez. De questionar e acrescentar. Ou alguma utopia qualquer de que é possível mudar o mundo. De qualquer modo, vou falar mais algumas vezes sobre. Acredito sinceramente que a publicidade no mundo está em crise. No Brasil idem. No Piauí, obviamente, infinitamente mais. Acontece algo engraçado. As coisas boas chegam com atraso. As más se antecipam. Deve ser karma. Pode ser que não adiante nada. Deve acontecer isso, até: nada. Mas é minha vibe atual. Crer que a publicidade dominou o mundo com seus filhotes. E que isso não é bom. Mas que pode, quem sabe, ser. Pelo menos pode ajudar em alguma coisa. No mínimo, podemos tentar consertar algumas das merdas que produzimos. Então, pode sobrar pra alguém aqui. Algum colega. Algum amigo. Perdoa o mau jeito. O meu jeito.

28/03/2009

* Estou pensando sobre esta pérola da publicidade brasileira e posto alguma coisa a respeito assim que tiver algo minimamente compreensível.


* Sim, e você, já tem o seu Coisas de Amor Largadas na Noite? Não? COMPRE DJÁ!

27/03/2009


25/03/2009

Não me incomoda que uma mulher na Romênia queira leiloar a virgindade e ganhar com isso cento e sei lá quantos mil euros.
Não creio que seja uma questão de "moral" ou "imoral".
De certo modo, "imoral" é tudo aquilo que os outros fazem e que não temos coragem de fazer.
O que me causa espanto é imaginar que há gente capaz de querer pagar uma fortuna para "tirar a virgindade" de alguém.
Isso sim, é algo a ser pensado.

* E, se você não sabe, estou no twitter faz tempo. @andrepiaui

14/03/2009

Sobre a campanha de Doritos.

Claro, também falo algo. Então. Algumas coisas me preocupam. O destino da propaganda, publicidade, enfim, disso que a gente faz. O que é que a gente faz? Ainda acreditam que a gente vende calças jeans. Que a gente vende biscoito. Que a gente vende perfume e refrigerante. Que a gente vende políticos e ganha eleições. A gente não vende nada disso. No more. A gente não vende mais nada. A gente é espelho. A gente reflete o que chega pra gente, da sociedade, do consumo, da escola, da família. Esse negócio que chamamos mundo. E aí eu lembro daqueles espelhos de parque de diversões, que muita gente, hoje, acho que nunca viu. Mas os espelhos de parque de diversões fazem assim: um reflete a imagem da gente mais gordo. Outro, mais alto. Outro, mais magro. Outro, anão. E a brincadeira é essa. Que a gente sabe e vai pra sala de espelhos para rir e ridicularizar a gente mesmo, e sai de lá pensando “que ridículo eu seria se fosse anão” (ou gordo, ou alto, ou magrelo). Então, Doritos. E o espelho com a logo Doritos na lateral mostra como somos, sem a gente perceber como realmente somos. E muita gente acha graça, porque o espelho está mostrando uma aberração que não somos nós. A gente acha que não somos nós. E é esse o perigo desse negócio que nós fazemos. Publicidade, propaganda, algo assim. Porque a gente não sabe (ou, finge) que está no grande parque de diversões que é a televisão. A gente não sabe (ou finge) que o preconceito travestido faz seu trottoir nas casas de milhões e milhões e milhões de iletrados, analfabetos, depravados, castos, libertinos, homofóbicos, gays, machistas, cultos, influentes, zés-ninguém, feministas, gordos, cegos e etc, etc, etc etc. E o espelho, disfarçado de humor e de gracinha, reflete e reforça o que achamos que somos. Porque a gente não pagou ingresso pra se divertir. A gente não sabe que aquilo ali é uma deformação propositada. Aí, a gente aceita e entende que é aquilo que somos, e diz que é assim mesmo e que não tem nada demais. Aí, sobre o politicamente correto. Que é chato, mesmo. O patrulhamento, que é chato, mesmo. Sobre a histeria, que é chata, mesmo. Mas a gente acha que quando é o outro quem reclama, é porque é um chato do politicamente correto, ou um dinossauro mal-humorado, ou um viadinho histérico. E, o outro, na verdade, é o ofendido. De Alex, o LLL: “quem sabe da ofensa é o ofendido”. O outro, na verdade, é quem nós não vimos porque o riso ajuda a reduzir a área de visão e não enxergar que alguém é ou foi feito de palhaço para nossa diversão.Então, não se trata só de “politicamente correto”. Se trata de foco correto. Ou, traduzindo: de se adotar não o chato “politicamente correto”, mas o correto. De lembrar que a gente reflete, e que a gente pode escolher o que refletir. A gente pode refletir os valores mais elevados ou os valores mais rasteiros. A publicidade (ou propaganda, who knows?) tem de lembrar que, em países, digamos, como dizer, como o Brasil, grande parte dos valores que a sociedade carrega vem da televisão e da própria publicidade (propaganda, who cares?). Então, somos, sim, responsáveis. Somos, sim, obrigados a pensar no outro, e parar de fingir que não tem nada demais. A gente tem de parar de acreditar que “puta merda, somos muito descolados e não temos preconceito, a gente só quer fazer coisas engraçadas”. É tão fácil. Ou a gente pode fazer outra opção. A de continuar acreditando que a nossa única função é vender calça jeans e biscoito horroroso tentando ser funny. E a gente pode continuar ajudando pessoas a se elegerem, seja quem elas forem, porque a gente vende sabonete. E a gente pode continuar a enfiar saco de Doritos na cara dos outros porque dançam YMCA ou cantam Like a Virgin. Claro que a gente pode. Você decide. E, quem sabe, até pode dividir isso com os amigos, né?

07/03/2009


Coming soon!

Palestra A Mulher na Propaganda
Ceut - 06/03/09
foto: Paula Fortes

05/03/2009

Olá, Japão!

*SAP: alô, zapón!

03/03/2009


Pelé disse uma vez que desde criança dormia com a bola. Abraçado, agarrado, beijando, cheirando a bola. A bola suja de lama. E não só ele. Ele e tantos outros. É quase uma unanimidade entre os craques que tratar a bola como “você” é o segredo do negócio. Intimidade com a redonda. Saber a reação da bola a cada tipo de toque. O efeito com a chapa do pé. O efeito em um chute de trivela. A hora de dar um bicudão. Como matar o esférico no peito, deixá-lo escorrer pelo corpo e bater de primeira no ângulo. Isso não se aprende de uma hora pra outra. É fruto da intimidade. Leva tempo. É resultado de anos de companheirismo. É simbiose. É vivência a dois. O craque e a bola.
Agora imagine que você é técnico da Seleção Brasileira. Talvez o Dunga. O exemplo caberia bem no Dunga. Aí você é o Dunga, e tem no time um monte de craques. Ou de jovens promessas. A Copa do Mundo é daqui a dois anos. Pensou? Tá.
Aí você chega pra turma no treino e diz: “olha, pessoal, a partir de hoje vocês só usam a bola uma hora por dia. Sabe como é, bola distrai. Vamos cuidar da tática, fazer musculação. Conversar com os repórteres. Essa coisa de bola não leva a lugar nenhum”.
É isso. É isso que estão fazendo em um monte de agências de publicidade. Tirando a bola do treinamento às vésperas da Copa. A morte do talento. O fim do craque.
Então, alguém pode me explicar porque agências de propaganda estão bloqueando o acesso ao MSN, ao Orkut, limitando o acesso à internet e seus blogs, flogs, facebooks e etceteras? Alguém pode dar um argumento minimamente razoável para proibir esse pessoal que devia ser a “vanguarda da comunicação” de bater bola todo dia com esse negocinho maluco e que muda todo dia, opa, já mudou, que a gente ainda chama de internet? Será que não entenderam que não se “aprende” a usar a internet e, sim, que se “usa” a internet para se comunicar? Ainda não viram o que está acontecendo, e estão aí, com a desculpa esfarrapada de “produtividade” e “foco” e “horas trabalhadas” para esconder que eles não estão entendendo coisa nenhuma? Que eles não sabem como criar uma empresa legal, e nem compromisso de seus funcionários, e ainda estão no meio da Revolução Industrial e seus métodos de mecanização humana?
Não se perde o foco no trabalho usando MSN. Quem “perde o foco” usando o MSN perderia “o foco” na sala do cafezinho, na saia da secretária, no espelho do banheiro, no cigarro na janela. Quem não produz por estar vendo vídeos no You Tube não produziria nada porque ia conversar sobre a balada com o loirinho do segundo andar. Claro, arautos do obtuso, não estou falando de médicos em sala de cirurgia, nem de pilotos de avião em hora de serviço, nem de motoboy acessando site de mulher pelada em cima da moto. Não sejam estúpidos. Óbvio que isso é outra coisa. Estamos falando de comunicação. Dessa coisa que agencias de publicidade, propaganda ou sei lá como chamá-las hoje, deveriam fazer. E que muitas não sabem mais como fazer, e a maioria nem vai descobrir como é que se comunicará com o “público-alvo” em quatro ou cinco anos. Aliás, público-alvo o caramba: hoje, é público-dardo. Ele atira na gente.
Estamos falando de compreender as novas possibilidades que essa coisa que ainda chamamos de internet nos dá. Ainda não temos intimidade com ela. Ainda não sabemos quem ela é, quem ela pode ser, e o que vai ser semana que vem. Não sabemos direito como matar a internet no peito e colocar no ângulo. Como rolar a bola nesse tapete virtual e deixar o cliente na cara do gol. Então, vamos treinar. Vamos deixar os craques descobrirem os segredos. Vamos deixar os craques dormirem com essa bola, trabalharem com ela, rolarem na grama com ela. Chega de musculação, e vamos pro desenvolvimento do talento. Os pernas de pau também vão se beneficiar, pode ter certeza. Entendam isso, queridos. Vamos voltar a ser vanguarda. Vamos ser criativos, outra vez. Faz tempo que a gente não é. E tem gente sendo em nosso lugar. Vamos tirar a bunda da cadeira e a cabeça do século XX. O futuro foi ontem, companheiro.
Hoje, já é amanhã.