21/08/2009

Pequeno Guia das Mínimas Certezas

Para ter certeza da idoneidade de um político, bata-lhe três vezes na testa à maneira em que se bate em uma porta (com mais força, por via das dúvidas); se idôneo, o dito cujo trinca; se corrupto, ele sorri e afaga o bebê imaginário que lhe acompanha. Recomenda-se, para tal experimento, o uso de roupas sem bolso, touca de banho e luvas cirúrgicas.

20/08/2009

Sobre pizzas

O brasileiro é viciado em pizza. Estima-se que só em São Paulo sejam servidas um milhão de pizzas por dia. Aproximadamente 45.833 por hora. Cerca de 784 por minuto. Uma dúzia por segundo. Isso, acredite, apenas em São Paulo. Não há dados oficiais sobre o número de pizzas em todo o Brasil. Mas, o que se sabe, é que brasileiro adora uma pizza. Tanto que, aqui, existe o Dia da Pizza: 10 de julho. Dizem que no Brasil tudo acaba em pizza. Dizem, também, que essa expressão surgiu em 1950, quando dirigentes do Palmeiras quase foram aos tapas em uma discussão e fizeram as pazes indo à pizzaria. Tutti buonna gente. Pode ser lenda. Convenhamos, bem saborosa. Echo.
Segundo historiadores, a pizza surgiu há cerca de seis mil anos. Ao contrário do que se imagina, não foi na Itália. Foi no Egito. Não creio. Assisti Cleópatra várias vezes e não lembro de Elizabeth Taylor comendo pizza. Outros afirmam que ela surgiu na Grécia, e era feita com massa à base de farinha de trigo e grão-de-bico. Há quem jure que Platão teria escrito a Politeía com a boca cheia de pizza de mussarela, mas há controvérsias. Escavações em Atenas levam muita a gente a desconfiar que o arremesso de disco, modalidade olímpica, surgiu nessa época, quando era comum se arremessarem pizzas ruins no Mar Egeu. Pois bem. Da Grécia, a pizza teria invadido a Etrúria, na Itália, e caído no gosto popular. Mas era servida dobrada, como um sanduíche. Supõe-se que não tenha dado muito certo, talvez pela inexistência de guardanapos de papel nessa época. No século XVII, em Nápoles, a pizza começa a se aproximar da que conhecemos hoje quando os espanhóis descobriram que tomate serve para comer e não apenas para jogar nos outros. Essa pizza rudimentar ainda era retangular, apesar de já contar com azeite, alho, mussarela. Em 1830, foi inaugurada a primeira pizzaria do mundo: a Port’Alba, lá mesmo, em Nápoles, que reunia a intelectualidade napolitana, entre eles poetas, escritores e pintores. Um certo Dom Rafaello Espósito criou a Margherita, em homenagem à rainha Margherita de Sabóia, mulher de Umberto I, e aí a coisa complicou. Misturaram tudo, e colocaram a politicagem como ingrediente. Depois, na Segunda Guerra Mundial, os americanos cismaram de aprender a fazer pizza e, é claro, com a delicadeza que lhes é peculiar, avacalharam tudo. Ensinaram o mundo a colocar catchup e maionese na pizza, inventaram o fast-food e a borda de catupiry. E, claro, a beber Coca-Cola, pra descer pela garganta da gente essa gororoba. O fato é que brasileiro é viciado em pizza. Isso tem causado alguns problemas a nossa gente. Veja, por exemplo, o caso da Velhinha de Taubaté. Uma fonte minha, que prefere não ser revelada, informa que a polícia desvendou o segredo de sua morte. Não foi por se ver traída por alguém em quem ainda acreditava. Sua autópsia revelou sufocamento por pizza. Uma caixa de papelão ao lado do telefone confirma essa suspeita: Pizzaria Brasil. Na etiqueta, o sabor da pizza: buchada.

(postado originariamente em 01.09.2005, e re-postado em homenagem à quarta-feira onde... bem, você lembra o que aconteceu ontem)

12/08/2009

Ontem eu e ela fomos a um evento da faculdade sobre a não-obrigatoriedade do diploma para o jornalismo, essas coisas. Fomos só para assistir. Ela, a favor do fim da obrigatoriedade, não foi chamada para a discussão. Mas nem é esse o assunto do post. É que, ao final do evento, duas mocinhas vieram nos entrevistar para o jornal da faculdade. Duas estudantes simpáticas e sorridentes e interessadas. Aí perguntaram para ela alguma coisa. Ela, como sempre, respondeu brilhantemente. Aí a outra disse para nós que estava meio emocionada de entrevistar a gente porque eu sou “meio assim, um ídolo” para ela e para turma dela. Há. Ídolo, eu. Achei uma graça e achei engraçado. Mas sorri amarelo e esperei a pergunta. Que veio, tradicional aqui. Quase um prato típico da região, essa pergunta. Para quem não sabe, moro em Teresina, Piauí. Então, sempre que a gente ganha um prêmio, essa pergunta aparece. Sei de cor. Desta vez, precedida por algo como “como você escolheu a profissão”. Respondi que não escolhi a profissão, que fui escolhido por ela. Não é frase feita, não. É que não tive opção, mesmo. Fiz a única coisa para o qual estava capacitado a fazer e que não me exigia certificado nenhum, além de meus textos. E que, talvez até por não ter tido opção, o fato de que em minha profissão não há obrigatoriedade de diploma me tenha tornado melhor profissional. Porque fui obrigado a ser bom no que faço, modéstia noves-fora. E aprender na marra. E só hoje, depois de alguns+alguns+alguns anos de atuação, consegui freqüentar uma faculdade, que está me dando um lado que eu não tive: método, rumo, norte e gente pra debater. E, quem sabe, possibilidades teóricas de ser um pouco mais, no futuro. E que talvez por isso eu não seja a favor da obrigatoriedade. Mas ainda nem é essa “aquela” pergunta. Que é mais ou menos “como você se sente ganhando prêmios, mesmo vivendo numa cidade distante de tudo, onde tudo é mais difícil”? Viu, como é um prato típico da região? Aí, né, fiz o que decidi fazer nos últimos meses. Até porque se ela disse que sou “assim, meio ídolo”, tenho de ter postura de alguém que é "assim, meio-ídolo". E cutucar. E então eu perguntei que dificuldade era essa. Porque, hoje, a gente liga a tv e vê a mesma programação que se vê em todo lugar, que a tv a cabo tem canais do mundo inteiro, que na internet você acessa sites, blogs, facebook, orkut e twitter, como o mundo inteiro. Que você pede livros em qualquer livraria do mundo, e baixa MP3 e pdf free na hora que quiser. Mozart, Rachmaninoff, Bonde do Rolê e Sepultura. Sartre, Cora Coralina e Peter Pan. Que distância é essa, então? Existe ainda, mesmo? Onde é, esse tal de “longe”? E que por isso eu não sentia nada em relação a isso, a não ser que ganhar prêmios aqui é uma forma de mostrar que essa distância é um álibi. (Claro que sei que não é exatamente assim, mas é muito assim). Talvez a palavra nem seja álibi, porque essa cultura, esse sentimento, é empurrado goela abaixo da gente dia após dia. Mas, vá lá, fica como um álibi involuntário para a acomodação e a falta de iniciativa. E blá. Eu entendo que é mais complexo. Mas tem de mexer com esse povo. Quebrar o discurso. Interromper esse fluxo burro que é imposto sobre a meninada por quem domina e para quem, na hora de comprar seus mimos e passar o fim de semana com ares de madame e madamo, lugar nenhum é longe. Não podemos deixar meninos de vinte anos dizendo que não fazem nada bom porque aqui não presta. Onde presta? Há 40 anos era mais difícil. Mas já se fazia. Tanta gente fez. Tanta gente boa. Então. Chega de discurso burro. Não é difícil nada. Aqui não é longe de lugar nenhum. Aqui é aqui. Para quem está lá, aqui é longe. Para quem está aqui, longe é lá. Então. Qualquer lugar é longe quando se usa uma viseira daquelas, de cavalo. Eu sei, eu sei. É mais que isso, um pouco. Não é só assim. Mas tem de começar por algum lugar. Você sabe. Otimismo é meu outro nome.