28/07/2005

O Presidente Jatobá

Para dizer a verdade eu acho o Jatobá um chato. Para mim ele é o Chatobá. E, além do Chatobá, eu acho o Marcos Frota um chato. Não sei porquê. Ele não me fez nada. Ele não me atingiu em nada. Mas eu acho. O Chatobá ainda é mais chato que o Marcos Frota. Porque o Chatobá é uma mistura do velho Mac Gyver com o Stevie Wonder. E, agora, deu para andar cercado de chatobazinhos. Uma espécie de Michael Jackson que não enxerga um palmo adiante do nariz. Sei da importância social do Jatobá, digo, Chatobá. Os portadores de deficiência visual, que no meu tempo se podia chamar de cegos sem medo de ser tachado de preconceituoso, claro que se sentem representados. O personagem valoriza os cegos. Mostra que um portador de deficiência visual não é um inválido. Mas isso a gente sabe. Eu sei desde criança. Eu tenho cds do Ray Charles, que era cego. E gênio. E rico. E negro. Ou afro-americano. Mas poderiam ter arrumado um cego menos chato que o Chatobá. Agora, além de ser obrigado a ver novela ao invés de assistir XVII de Xapuri x Santa Mônica de Alagoas, sou obrigado a ver a trupe do Chatobá todos os dias na tv. Chatobá e os chatobazinhos. Chatobá, a ex-Salete chorona, outros dois e ainda o filho do Roberto Carlos. O Roberto Carlos já é chatíssimo, o filho dele, então, nem se fala. Sei que basta desligar ou mudar de canal. Eu sei. Mas não dá. Chatobá é um caso de amor e ódio. Ele me enche o saco, mas eu quero ver. É como depoimento nas CPIs: nada pode ser mais chato, mas a gente fica querendo ver. Ainda mais agora que tem capítulos diários. Tem vilão. Tem bandido. Tem pretensa heroína. Tem piada. Tem tramóia. Tem briga. Tem aliança. Tem dinheiro na cueca. Tem Polícia Federal. Tem traição. Melhor tirar do ar o Chatobá e deixar a Heloísa Helena. Chato por chato, melhor a Heloísa Helena. Que é menos chata, também, que a Haydeé. Haydeé, a mulher do Glauco. Haydeé, a cleptomaníaca que vai substituir Delúbio Soares na tesouraria do PT. Sob o olhar atento de Chatobá, que enxerga tudo. Chatobá dirige carro. Chatobá dança tango. Chatobá toca tuba. Chatobá é neurocirurgião. Chatobá é surfista. Chatobá é trapezista. Chatobá pilota jato. Chatobá paquera a mulherada piscando o olho. Chatobá consegue fazer tudo que um ser humano com dois olhos bons não consegue. Chatobá é a outra identidade de Matt Murdock, que é a identidade secreta do Demolidor, o único super-herói deficiente da Marvel. Chatobá deve ser chamado pela CPI para dizer o que viu. Chatobá vê tudo. Dizem que foi ele quem viu os dólares no cuecão. Dizem que foi ele quem viu os dólares na mala. Dizem que foi ele que denunciou a Daslu. Dizem que ele é candidato a presidente. Não duvido. Jatobá, o Chatobá, é onipotente, onisciente, onipresente. Porque não pode ser presidente? Eu não voto em Chatobá. Mas ele pode ser uma boa opção. Depois de um presidente sem dedinho, porque não um presidente ceguinho? Depois de um presidente que não viu nada, porque um que não vê mas, pelo menos, enxerga? Eu acho o Jatobá um chato. Mas é melhor o Chatobá ser o sucessor do Lula. Ou, então, a gente compra um cão-guia e leva pro Planalto. Porque o pior cego é o que não quer ver. Vai ver o Lula não quer. Mas o Jatobá morre de vontade.

21/07/2005

CSI Teresina

Diz a lenda que, um dia, em uma terra distante e há muitos e muitos anos, apareceu decapitado um homem. Tudo que se pôde deduzir foi que a arma do crime foi uma pá. O culpado? Parecia impossível saber. Inimigos o morto não tinha. Testemunhas, nenhuma. E, naquelas terras, eram todos agricultores e em todas as casas havia uma ou, até, mais de uma pá. Como saber o autor de tão bárbaro crime? Um sábio, muito mais sábio que todos os sábios juntos, sugeriu ao imperador que mandasse todos os homens do reino buscarem em casa suas pás e se reunirem em frente ao palácio. Assim o imperador procedeu. Todos os homens reunidos, o sábio pediu que fossem levantadas para o alto as pás e que, nessa posição, todos permanecessem. E assim, durante horas, os homens do reino mantiveram pás levantadas aos céus, sem nada compreender. Até que, satisfeito, o sábio pediu que baixassem as pás, chamou o imperador e indicou o assassino. Curioso, o imperador perguntou como era possível saber o culpado com tão simples atitude. E o sábio mostrou que, em apenas uma das pás, moscas haviam se juntado, atraídas pelo sangue mal lavado ainda existente na ponta da pá do criminoso. Nascia a perícia criminal. Isso foi há milhares de anos. E ninguém sabe se é mesmo uma lenda ou um fato. E o que isso tem a ver com o que acontece no Brasil de hoje? Tem que no Piauí, por exemplo, o Instituto Médico Legal não dispõe sequer de um aparelho de raios-X. Os recursos mais utilizados são a mera dedução e a observação, além da experiência e dedicação de meia dúzia de abnegados profissionais utilizando métodos quase tão antigos quanto o mais primitivo conhecimento científico humano. Mal acostumado ao assistir a série CSI na TV por assinatura, me impressionei ao saber disso. Imagino não ser improvável que inocentes possam estar presos pela possibilidade de que algo que prove sua inocência não seja descoberto, pelo total desaparelhamento da perícia do Estado. Ou, ao contrário, que culpados estejam nas ruas pela incapacidade de se terem provas técnicas que concluam de forma incontestável a sua culpa. Não faço a mínima idéia de quanto custa um aparelho de raios-X. Nem imagino quanto custam aparelhos mais sofisticados que possam auxiliar os peritos. Não tenho como imaginar o que é realmente essencial para que esse trabalho seja desempenhado de forma minimamente condizente com o conhecimento disponível no século XXI. Mas o que eu, você e o Brasil inteiro estamos vendo, ou melhor, comprovando, já que há anos a gente finge que não vê tudo isso que está aí, são os porquês de hospitais com doentes morrendo nos corredores, escolas sem vagas, bandidos fechando túneis com armas de guerra, carros de polícia sem gasolina para andar, bombeiros com mangueiras furadas para combater incêndios: é que os recursos para isso estão viajando em cuecas, malas e sabe mais Deus o quê pelos céus do Brasil. É porque já passamos por uma ditadura, por um Sarney, por um PC e um Collor, por dois FHC e, agora, por Delúbios e Valérios, e não tivemos a coragem de extirpar a verdadeira origem de suas existências: o descaso, a politicagem, o cinismo, a mentira, a cara-de-pau, a impunidade. Os únicos inocentes nisso tudo são os que sofrem com a falta de condições mínimas de sobrevivência. De resto, somos todos culpados. Até que a coragem derrote a esperança, o medo e a decepção. O Brasil está com as entranhas abertas. É hora de tirar o tumor.

14/07/2005

De picaretas e publicitários

O mais chato de tudo é ter de ouvir certas piadinhas. Sim, porque, para meu infortúnio, sou: publicitário, mineiro e careca. Eu, que já tive que, durante anos, agüentar ser chamado de André Cajarana por causa de uma novela, agora sou obrigado a ouvir: "publicitário, hein? Mineiro, hein? Careca, hein?". Deixo aqui o meu protesto e, mesmo sem precisar, me defendo: sou mais publicitário que o tal Valério já que, até onde se sabe, nunca escreveu nem anúncio em obituário. Sou calvo, não sou careca. Ele, sim, que tem cabeça de ovo e, pelo mostrado na tv, lavada com óleo de peroba. E, bem, sou mineiro, sim, mas de Niterói, que fica no Rio de Janeiro. Não, não estou renegando minha mineirice, muito ao contrário: o tal Marcos Valério é que deve ser um mineiro paraguaio, tão falso que é incapaz de assumir uma calvície e raspa a cabeça para parecer que é careca por estilo. Sou um mineiro que nasceu por acidente do lado de fora das montanhas mas carrego, no DNA (caramba, essa é uma empresa do talzinho), o gene que me faz salivar diante de um pedaço de queijo, que me faz acreditar que o mundo não é redondo e achatado nos pólos, mas montanhoso e com cachoeiras nas bordas, que me faz dormir sonhando em acordar em uma piscina de doce de leite e que provoca reações cardíacas inexplicáveis em dia de Cruzeiro x Atlético.
Longe de mim, ainda, querer defender uma classe. Não sou homem de classes. Posso até ser classudo, dependendo do ponto de vista e apesar disso gerar muita controvérsia. Mas não creio em corporativismos nem em intransigentes posições acima do bem e do mal quando se trata de elogiar, criticar ou analisar quem quer que seja. Mas me sinto, por força das amizades que tenho no meio, com a obrigação de dizer que Marcos Valério não é publicitário. A profissão dele é outra: picareta. Favor não confundir as coisas. Picaretas existem em todos os meios, em todas as classes. Na publicidade existem muitos. Conheço vários, apesar de nunca ter visto antes um tão picareta quanto o Valério, que parece ser algo assim um João Paulo II da picaretagem. Eles são conhecidos por ganharem muito dinheiro mesmo sem serem diretores de arte, nem redatores, nem mídias, nem atendimentos, gente que trabalha duro, na maioria das vezes, por salários tão baixos quanto os de profissionais de qualquer setor. Marcos Valérios não sabem o que é publicidade: sabem o que é dinheiro fácil, de origem duvidosa e o que é esquema. É fácil reconhecer um Marcos Valério: gostam de andar de jatinho emprestado, não adotam posições ideológicas, acham lindo jantar em restaurantes finos com companhias importantes para contar aos amigos e serem vistos pelos concorrentes, adoram presentear secretárias de senadores e juram, de pés juntos, não serem mercenários: são profissionais. Como se profissionais não tivessem que ter, como premissa básica para assim serem vistos, caráter, ética e respeito. Então, por favor, parem com as galhofas contra publicitários. É melhor prestar atenção aos sinais exteriores de marcosvalerice e não misturar alhos com bugalhos. Antes de mais nada, vamos deixar de chamá-lo de publicitário. E também de empresário, gente que, em sua maioria, trabalha e produz. Pensando bem, melhor nem chamá-lo de cabeça de ovo, o que é um desrespeito aos ovos.
Vamos chamá-lo mesmo de picareta, desonesto, patife, mentiroso. É muito mais adequado.