13/12/2007

As Várias Faces de Jackie S. - Face 6 - A Imperatriz

Jackie se despiu da alma e vestiu seu melhor blefe. Longo e negro, e elegante e discreto, com longas fendas nas laterais. Verdade? O que é a verdade, senão uma mentira repetida e repetida e repetida até que se formem cristais de meias-certezas? Não, nunca mais a verdade. O mundo de Jackie não comporta mais aquilo que é. Apenas, tudo que deveria ser. Jackie pisa firme rumo à terra prometida. E recolhe pelo caminho pedras coloridas para sua coroa de rainha do próprio eu. São sete da noite e tudo está calmo. Mas ela, a calma e sua pálida face que ruboriza ao menor prenúncio de tempestade, é o pombo-correio da dor. E Jackie, Sua Majestade dela mesma, primeira e única, repousa a magnânima tirania no trono forrado de veludo azul. Dali, ao menor gesto de seu imperial mindinho esquerdo, comanda as cores e os perfumes e os odores e os humores do Universo. Do Universo que explode dentro do seu peito. “Dobrem os joelhos, parvos e tristes servos de mim! Estou entediada e quero sangue! Carrasco: corta-lhes as cabeças inúteis e traga-as à minha alcova! Quero-lhas forrando meus sonhos.” Jackie, não mais doce, não mais suave, não mais pura, não mais íntegra, abre suas novas e farfalhantes asas negras e cospe fogo pelos olhos. “Não mais dores em mim, néscios! O mundo é meu. Dá-me de volta o que sempre esteve longe de mim”. Embriagada, Jackie se entrega ao sono. E dorme. Dorme o sono dos injustos. Porque é deles o reino da terra. O céu tem outro Rei. “God save the Queen”, saúda a turba. Insana. Como convém.