06/11/2007

As Várias Faces de Jackie S. - Face 5 - A Alquimista

O azul do mundo desaba sobre os olhos de Jackie. Não mais cinzas, não mais sombras dando cotoveladas em seu peito, não mais noites corroendo seus pés. O abismo que separa o mundo conhecido do além-mar é vencido por sobre o fio ácido e rubro da navalha. Asas, brancas, imaculadas como as certezas dos sem-convicção, farfalham ao vento e espalham o perfume dos sorrisos. “Noite, noite, tão grande e triste e negra
noite, abre-te em luz porque a cor nasceu e bate fundo dentro de mim”. E tão grandes são as cores, e tão menores suas dores e tão presentes seus amores que Jackie abre os braços e fecha os olhos e abre os ouvidos e fecha as mãos e aspira o dia e se atira, nua e serena, do alto da colina dos seus pânicos, em direção ao quem sabe. “Verdade? E o que é a verdade? A verdade é o outro lado da ausência, e quem não a vê sabe que ela há e é, mas não pode olhá-la dentro dos olhos”. E o vento ganha músculos, e o aonde ganha corpo, e o nunca fica um dia de viagem mais perto do agora. Chove, e Jackie se apressa para buscar o chapéu que um sopro, que usa a estranha alcunha de jamais, um dia arrancou do seu cabide.

2 comentários:

Raimundo Neto disse...

Já pensou: Jackie presa em papel reciclável, em um livreto, para saborearmos quando algo estiver doendo? Pílulas-papel?

Uma das melhores faces de Jackie!

Jornalismo e Literatura... lembra de alguma coisa? :/

Vou usar algo desse texto, posso?
"Verdade? E o que é a verdade? A verdade é o outro lado da ausência, e quem não a vê sabe que ela há e é, mas não pode olhá-la dentro dos olhos"

Anônimo disse...

A Jackie continua viva!!!Oba!!!