16/10/2008


Eu li um texto da Mary, que é professora de Sociologia e muito mais inteligente que eu. E ela se diz pessimista, com a Escola, com a Universidade, com a profissão. Ela acha que a Escola vai acabar. Os professores também. Se a Mary que é tudo isso está pessimista, acaba que por tabela eu também fico. Porque uma das minhas metas para um futuro muito próximo é ser professor. Acho um caminho relativamente natural. Alguém querer transmitir o que aprendeu para quem pode puxar a ponta do fio do novelo para mais longe. Acho o máximo da dignidade envelhecer transmitindo (ou tentando, anyway) conhecimento. Ainda acredito que alguns conseguem. Aí vejo que o Governo do Estado tem como meta “que os alunos já saiam das escolas com noções básicas de informática, e para isso estamos montando salas de informática em mais de três mil escolas do Piauí.”. Tinha governo que acreditava que dar cursos grátis de datilografia era preparar para o mercado de trabalho. Saber o tectelectec era A oportunidade de viver melhor. Quem precisa aprender Sociologia se sabe fazer tectelectec? Defendo o uso da internet em praticamente todas as áreas da vida, educação inclusive. Mas nas tais três mil escolas do Piauí não existem três mil bibliotecas. Mínimas que sejam. Nem só com as obras de Machado de Assis, por exemplo. Nem mesmo com Paulo Coelho. O que, nesse caso, não é tão mau assim. Que na Universidade Estadual a biblioteca é pífia, grosso modo. Mas livro não dá voto. Três mil salas de informática é mais bonito e muderno que vinte mil, cinqüenta mil, cem mil livros. Ninguém fala em livros. Queria uma biblioteca mínima em cada escola, antes das salas de informática. Óbvio, tem que dar um jeito para que elas sejam usadas. Por alunos e professores. E comunidades. Mas o mundo inteiro sabe que as escolas no Piauí, no Nordeste e Brasil afora são precárias, às vezes sem luz, sem água, sem carteira. Nem telefone público. Giz (ainda se usa giz?). Tá, pincel e quadro de acrílico. Que na Universidade Estadual professores e alunos fazem (ou faziam, benefício da dúvida) vaquinha para comprar ar-condicionado ou mantê-los funcionando. Federal, não sei bem. Melhor, talvez, mas nem esse balaio todo. Que boa parte das crianças do fundamental passa semanas sem aulas por falta de quase tudo, inclusive professores, e um número muito, muito grande (números não são comigo, eu só decoro coisas como “alguns”, “vários”, “um monte”, “muitos”) dos adolescentes que percorrem todo o ensino médio têm, como destino, o analfabetismo funcional. Qualificação de professores é assunto ultrapassado. É fundamental o acesso à internet em todo lugar. Eu sei. Não pode é escola virar projeto de lan-house, a título de se ter caracteres bonitos em campanha eleitoral. Se a escola não ensina bem nem o mínimo nem o mínimo do mínimo, o que esses meninos vão acessar pela internet? Se bem que, se mal conseguem ter energia elétrica, vão ter internet? Bem. Entra governo e sai governo e o discurso é dar às pessoas o acesso ao futuro. Como se o futuro tivesse como passaporte só um teclado e um mouse, e não o estímulo à leitura, ao conhecimento, ao aprendizado. Que vem, antes da internet, pelos livros, didáticos ou não, pelos professores, pela sala de aula, pela escola. Mas vai ver a Mary está certa e a Escola vai acabar. Vai ver, todo mundo vai tirar diploma pela internet. Resta ver qual governo vai comemorar essa conquista. Estão tentando faz tempo. Um dia eles conseguem. Ou, vai ver, tem alguma coisa nova acontecendo e a gente ainda não entendeu.

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