Acho que agora que acabou eu posso dizer. Da coisa pífia que foi a campanha eleitoral em Teresina. Pífia, concluída com um debate ainda mais pífio, por mais esforço que alguém queira fazer para fazer, de um debate como o de hoje, algo pouco pífio. Mas o formato deste tipo de debate não permite. Impossível qualquer pessoa, excetuando-se talvez o Washington Olivetto, que não é exatamente “uma pessoa”, concluir um raciocínio minimamente coerente sob o ponto de vista político e não maniqueísta de panfleto tendo um minuto para pergunta, ou dois minutos para resposta, ou trinta segundos para réplica, ou coisa que o valha.
Além: vi o programa do PT, o último, e o candidato fez o mais piegas programa ever. Conclamando a mulher para o voto nele, claro, porque ele é família e compreende o valor da mulher. Discurso moderníssimo, pois, e musiquinha de porta-jóias, e o cúmulo de dar flores para a apresentadora representando flores para todas as mulheres. Tudo de muito má qualidade: letra, música e dança. E vi o programa dos Sociais-Democratas da situação que, óbvio, tentou mostrar o que o prefeito fez e não dizer o que não fez, vide a ponte do Sesquicentenário já que, qualquer dia, vamos comemorar o sesquicentenário da não-ponte. O programa usou a surradíssima forma clássica de contar uma historia para representar os milhões de histórias que poderão, quem sabe, com a “ajuda de Deus e o seu voto”, acontecer nos próximos anos. E o jingle cantado de forma lânguida, com emoção quase incontrolável, para levar as pessoas ao mais puro sentimento de carinho e ternura e afinidade para com o tal. Fecha a cortina, depressa.
Insistem em chamar Teresina de grande pólo de saúde. Bah. Basta ir a qualquer maternidade, a qualquer hospital, a qualquer posto, e pedir para medir sua pressão. Ou faça assim: tropece numa vala no centro da cidade, de propósito, e bata a cabeça no meio-fio, e corra ao hospital mais próximo, e vamos ver o maior centro de saúde do planeta em ação para uma simples sutura, três pontos na testa, sem carteirinha de plano de saúde. E faça assim: reúna 100 crianças do ensino público municipal e pergunte a elas qual a capital do Amapá, e peça para soletrarem “demagogia”, e vamos ver os grandes resultados do modelo educacional adotado. Apareceu lá um menininho campeão de uma olimpíada sei lá de quê, sei lá aonde. É assim: quando um se destaca, o modelo, o mesmo que achata e emburrece a massa, vira exemplo, porque um, por méritos unicamente próprios ou inteligência ou acidente quebrou a regra. E, quer saber, não interessa ter 99,5% das crianças em idade escolar na escola, se os professores deles ganham 319 reals e precisam vender pulseirinha de barbante pra complementar a renda. Eu gosto do PSol, do PCB e dos não alinhados ao esquemão “vamos fingir que somos diferentes e nos abracemos depois do pleito”. Acredito, sinceramente, em sua importância na contestação e na busca de uma sociedade melhor e da utopia mais que necessária do socialismo. Mas é urgente convencer Aléxis, Lourdes e Ismar que marquétingue não é só o ato de criar factóides e manipular a mídia com intenções eleitoreiras. É, também, mostrar que pular na tv de pochete segurando bandeira não alavanca o debate político, mostrar que esbravejar com voz de taquara não mobiliza a juventude, e que dizer apenas que se é professor de História e com a vida ilibada (apesar de ambas serem, convenhamos, caracterísitcas bastante atraentes pra se escolher um candidato) NÃO conquista a massa ignara que tem fome de quê. Não concordo que é preciso deixar todo mundo ser candidato, com a premissa de que o folclore do Quem-Quem e do Avelar é a democracia em ação. Porque desmoraliza o debate, desvia o foco dos problemas e desaba na chanchada. O sistema já é antidemocrático ou pseudodemocrático demais para permitir o exotismo engraçadinho estilo Chaves do sertão.
Tenho uma idéia, e busco parceiros para lutar por ela: todos os candidatos, independente de coligações, terão sempre o mesmo tempo na tv, o mesmo número de cartazes, só 500 santinhos para cada (ainda dou o direito de escolherem seus marquétingue-mans, mas só), sem assessoria de imprensa. Todo mundo igual. Se for um partido nanico, ótimo. Se for uma coligação de dezoito partidos, dane-se. Cada candidato, x minutos. E aí, meu camarada, quero ver neguinho rebolar para mostrar quem é e o que vai fazer e como vai colocar as comunidades dentro das soluções. E quero ver uma tv fazer uma série de reportagens de verdade com estudantes, médicos, motoristas de ônibus, donas-de-casa e anybody perguntando aos candidatos, cara a cara, ao vivo, sem pré-seleção e sem polices o que é, qual é, como é, quando é que as coisas vão deixar de ser fachada pra virar verdade, e quando vamos parar de fingir que a democracia é isso que está aí, e quando o povo vai parar de aparecer na tv sendo abraçado e agitando bandeirinha e vai aparecer cobrando, mostrando, exigindo e conquistando uma vida melhor sem hipocrisia.
E, por favor, vamos desligar a tv da próxima vez que a Globo comparar as cidades com condomínios e prefeitos com síndicos, porque isso é extremamente ridículo.
**** Gódi, acabei de descobrir que AINDA não acabou. Ainda tem mais pograma de tv na quarta-feira, 1, e debate na Globo quinta-feira, dia 2. Isso mostra bem o alto nível de interesse. Céus, sou um despolitizado. Bem, então. Ficar de olho. Senhores candidatos, os senhores (e senhoras, claro) têm 48 horas para mudar minha opinião. Ha. Quero ver.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
o que eu mais gosto são os "marqueteiros mercenários" da Lourdes...
pelo menos ela faz questao de por os creditos da produção...rs
bj andre
Isso é referencial.
O Povo é culpado por não cobrar e o Prefeito e candidatos são culpados por não se manifestarem em outras datas.
Faz um concurso. xD
O que é um debate em uma sociedade que pensa "tanto"?
Deu no que deu...
===
E o peixe? abraços
Sem falar da versão "Tome Tome Tome - Silvio 45 Remix".
E eu que sou tão novo to perdendo a paciência...
Procura no youtube se tem o VT dos humoristas piauienses com a tal paródia e deixa solto pra galera comentar, dizendo o que acha, em seguida tu escreve sobre.
Abrazzz
Paula: é uma pena existir essa palavra "marqueteiro", que derruba tanto a nossa profissão; e pior ainda é perceber que "marqueteiro" e "mercenário" são vistos como sinônimos por tanta gente. Precisamos fazer algo, urgente.
Ítallo: ainda sou romântico ao ponto de acreditar que o povo é mais vítima que culpado; mas, vá lá, o povo tem la sua parcela de responsabilidade; mas, como é que esse povo vai saber como faer algo, se é instruído pra ser assim? céus.
Fábio: um debate é, justamente (ou deveria ser) uma chance para uma discussão mais profundo; mas ficam na superfície, e o formato do debate contribui para isso, e todo mundo acha que é assim mesmo. sabe, um debate me lmbra aquelas letrinhas que aparecem nos comerciais de carro, durante trê segundos e ocupando a metade da tela: a indústria finge que cumpre a regra, e os "fiscais" fingem que ela foi cumprida. e tome hipocrisia. O peixe: quando quiser. Só dar um alô.
Phyllipe: não achei. Se achar, me manda que eu ponho aqui. Gostei da idéia.
Obrigada André,por seu pensamento lúcido e vivo de tudo de nossas vidinhas cotidianas.Felicidades da Silvana!
Postar um comentário