18/03/2008

Autobiografia não autorizada de Maria Quem – Tiro 4

Meu pai, que chamava Onofre, era motorista de ônibus, branco, enorme e lindo, com cara de ator de novela que eu nem sei o nome, e era filho de motorista de ônibus e neto de motorista de caminhão. Ele gostava de ser motorista, e desde criança falava que ia ser igualzinho ao pai dele, meu avô, quando crescesse. Meu pai não gostava de estudar quando era menino, por isso não aprendeu muita coisa. Mas aprendeu a ser filho da puta desde cedo. Começou que foi pai pela primeira vez aos quatorze anos, quando embuchou uma tal de Mariah, mulher casada com o Tonico do bar. Era uma coisa de carregar caixa de cerveja pra lá e pra cá e meu pai, que sempre foi bonito como o diabo, conheceu as coisas da Mariah no meio das garrafas de cerveja. Meu avô, o pai do meu pai, só fez foi achar muita graça nessa história e foi conversar com o Tonico, que tinha dito que ia matar a Mariah. Meu avô, pai do meu pai, convenceu o Tonico de não matar ninguém, e Tonico, Mariah e Alecsandro, o primeiro filho do meu pai, viveram juntos até que o Alecsandro morreu num tiroteio com a polícia, ano passado. Mau elemento. Meu pai gostava dele, mas Tonico fez dele um bandido, de tanto bater no menino. Ele queria bater mesmo era no meu pai, mas meu pai era enorme, e o Tonico parece um toco de amarrar jegue. Meu pai cresceu aprontando e conhecendo todas as moças do bairro por dentro e por fora, de cima até os lá embaixo todos. Meu pai disse que nunca ia casar na vida porque casamento era coisa de homem feio ou burro, e ele nem era uma coisa nem outra. Aí um dia meu pai soube que na Passarinha tinha uma menininha novinha que não devia ter quinze anos. E ele foi lá, na Passarinha. E conheceu Edilene, minha mãe. Minha mãe, que começava a ser puta, se apaixonou na mesma horinha pelo meu pai, que já era filho da puta há muito tempo. E meu pai, que era filho da puta mas era lindo, arreganhou um sorriso do tamanho do céu e quase mata minha mãe, que desmaiou e caiu diretinho nos braços dele.

5 comentários:

J. disse...

meu jesus cristim! =O

Anônimo disse...

eu já disse que adoro vir ler suas histórias? Não? Pois é! rsrsrs

Beijão!

Anônimo disse...

é incrível como eu gosto de tudo que há por aqui. =)

Anônimo disse...

Eu sou fã dessa filha da puta!

Anônimo disse...

aaah
que bom que você gostou!
estará sempre aberto pra recebê-lo =)
umabraço