27/07/2006

Pra não dizer que não falei - I

Para quem não sabe ou não lembra, escrevi uma coluna semanal sobre futebol em 2004/2005, que virou diária na Copa 2006, assim como fora na de 2002.
Vou colocar aqui duas colunas, com suas datas.
De vez em quando a gente acerta, né?
Nada demais. Só curiosidade.

A Ronaldo o que é de Ronaldo
(publicada em 16.05.2005)

Há que se ter muito cuidado com arroubos nacionalistas e entusiasmos patrióticos, comuns em nós, brasileiros, em qualquer situação e, especificamente, quando o assunto é futebol. O fato de Ronaldinho Gaúcho ter sido eleito o melhor jogador do mundo e se sagrado campeão espanhol pelo Barcelona não o torna senhor de todos os campos, nem o mestre supremo dos desígnios da bola. É verdade que Ronaldinho Gaúcho está uma centena de dribles à frente de 99% dos chutadores de bola que existem mundo afora. É verdade que, de seus pés, nascem pequenas obras de arte a cada jogo, e que suas pernas escrevem com tinta indelével seu nome no livro dos excepcionais do futebol. Mas há de se convir: Ronaldinho Gaúcho precisa um pouco mais para adentrar, coberto de ouro, o panteão dos semideuses, e se sentar à direita do trono do Senhor, Édson Pelé. Em meio à euforia dos que já sonham peregrinar à Espanha para beijar os pés de Ronaldinho, é bom rever a entrevista dada para o Fantástico e olhar um pouco mais atentamente para os olhos do nosso menino dentuço. Há, dentro deles, uma leve sombra, uma pequena nuvem, que parece denunciar um certo deslumbramento, um certo ar que, nos campos de várzea, se chama máscara. A mim incomodou, por exemplo, o símbolo atual da alegria e malícia do futebol brasileiro usando camisetas e agasalhos onde se lia: Jordan, 23. Uma tentativa de se vender como Michael Jordan do futebol ou descuido de menino distraído? Não, nenhum nacionalismo barato, por favor. Apenas, tentando ler o subliminar nas entrelinhas do midiático. Até porque pode, e deve ser, apenas, implicância, mesmo. Ronaldinho pareceu alegre, óbvio, com a alegria dos vencedores, em nítido contraste com o outro Ronaldo, no mesmo programa, com ar de coqueiro depois de vendaval. E esse contraste serve como recado, aos dois Ronaldos e a nós: o mundo da bola gira na mesma velocidade da vida. E, enquanto há um dia ensolarado em um de seus lados, no outro há uma noite que pode ser fria e sem lua. Parabéns ao menino gaúcho que sonhou em ser rei. Que aproveite seu momento, mas não esqueça: 2006 está aí. E a glória é efêmera como um bolo de chantilly.

Um comentário:

Anônimo disse...

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