02/06/2005

Serra Leoa também é aqui

Não é preciso que ninguém nos diga que o Brasil é um país cheio de desigualdades, onde ricos e pobres estão separados pelo abismo da falta de educação, de saúde pública e de tantas outras faltas. Basta qualquer saída por qualquer cidade brasileira para ver o que os filmes de ficção científica mostram há tempos: a existência de mundos paralelos que se comunicam, eventualmente, através de portais que se abrem aleatoriamente. A diferença do Brasil para o mundo da ficção é que, no Brasil, para se mudar de uma dimensão para outra basta abrir a porta do carro.
Os números divulgados semana passada dando conta de que o Brasil só perde, quando o assunto é desigualdade na distribuição de renda, para Serra Leoa, apenas nos fazem constatar numericamente o que todo mundo vê: a cada dia mais gente tem menos, e menos gente tem mais. Segundo os dados, quase 22 milhões de brasileiros vivem, ou acham que vivem, com menos de 25% de um salário mínimo por mês, aproximadamente 75 reais. Mais: cerca de 54% dos brasileiros vivem, ou pensam que aquilo que eles fazem é viver, com meio salário mínimo por mês, aproximadamente 150 reais. A solução? Investimentos em educação, em saúde pública e no crescimento econômico. Então diga lá: se todo mundo sabe, se os economistas sabem, os políticos sabem, os publicitários sabem como resolver isso, porque essa mesma lenga-lenga há anos? Descaso? Corrupção? Canalhice? Incompetência? Ou vontade de ser o primeiro em tudo, inclusive nisso? Bem, se esse for o motivo, vou dar minha contribuição. Afinal, para derrotar um inimigo o primeiro passo é conhecê-lo.
A República da Serra Leoa é um país situado na região oeste da África, ao sul de Guiné e a nordeste da Libéria, com aproximadamente 5 milhões de habitantes, mais ou menos um terço da população da cidade de São Paulo. Cerca de 65% de sua população vive no campo, e sua taxa de analfabetismo é de 63,7%. Sua moeda é o leone, que eu não faço a menor idéia de quanto está valendo frente ao dólar. Cada mulher de Serra Leoa tem, em média, 6 filhos, e expectativa de vida de 39 anos, sendo a expectativa de vida dos homens de 39 anos. A taxa de mortalidade infantil de Serra Leoa é de 170 por mil. Sua renda per capta é de 140 dólares, o que significa pouco mais de 10 dólares, ou 25 reais por mês. Sua capital é Freetown, e o inglês é sua língua oficial. Além de ser o campeão mundial na desigualdade social, Serra Leoa é o país com o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no mundo, e é presidido pelo ditador Alhaji Doctor Ahman Tejan Kabbah. Sei que não é muito, ainda, e prometo pesquisar um pouco mais. Mas creio que seja o suficiente para que nossos governantes prestem atenção nos números e percebam que, apesar de tantas diferenças ente os dois países, curiosamente há muitas semelhanças. E que para ultrapassar Serra Leoa não é preciso muito. Estamos cada vez mais perto. A gente chega lá. Só mais um pouco de descaso e incompetência e a gente consegue.

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