03/11/2008

Às vezes questiono se automobilismo é esporte. Porque parece lógico que esporte tenha a ver com limites do corpo, sendo o próprio corpo o equipamento usado para correr, saltar, chutar, arremessar, nadar. O que seja. Mas insistem em falar da preparação física dos pilotos. Que eles têm de ser atletas. Pelo bem do senso comum, digamos que sim, que Fórmula 1 é esporte, então. Eu sempre gostei do Nélson Piquet. O pai, porque o Nelsinho, pif. Lembro que ele, o pai (porque o filho, pif), foi campeão pela primeira vez e deu um grito e saiu correndo no meio da entrevista. Achei genial. Aí veio Ayrton Senna. Para mim, o romantismo da F1 acabou com Senna. Não com a morte dele, fique claro. Com a vida dele. Com o racionalismo dele. O profissionalismo dele. Com a aparente emocionalização calculada dele. Com o maniqueísmo em volta dele, que era a personificação do Bem contra os ímpios do asfalto. Deus na curva. Bandeirinha no cockpit. Panpanpan. E o cara, que era O cara com um volante nas mãos, morre fazendo a coisa que fazia, dele, O cara. Aí tem o Massa. Eu gosto do Massa. Eu vejo nele uma emoção sincera, e uma racionalidade que não parece resvalar no cinismo. Mas aí tem o Hamilton. E tem a McLaren, que me incomoda como incomodava quando o Senna era da McLaren. E não é à toa que ela é prateada. Ela cheira a frieza. E a gente entende porque Senna nunca pilotou uma Ferrari. E a gente entende porque a Ferrari tem legiões de torcedores espalhadas mundo afora. E a McLaren não. Hamilton é campeão. E não vou dizer aqui o chavão “o primeiro negro campeão de F1” porque isso, sinceramente, não quer dizer nada. Obama representa alguma coisa. Hamilton não. Hamilton só representa que um inglês ganhou um campeonato de Fórmula 1. E que a gente não entende, mas torce por pessoas que a gente nunca viu na vida.O futebol explica quase tudo das reações e relações humanas. Já a F1 eu nem sei se é esporte, e até questiono também dezenas de subliminares despejadas em cada curva. Mas não custa prestar um pouco de atenção, também. Porque atrás de cada capacete também bate um coração. E tem um pouco de cada um de nós.

*Não, não esqueci do Rubinho. É que ele sempre chega depois, mesmo. Eu até gosto do Rubinho. Ele deve ser um cara legal pra gente bater papo no churrasco. E foi piloto da Ferrari. Schumacher à parte, para ser piloto da Ferrari deve ser preciso ser um cara legal.

** A foto. Gostei muito. E tirei daqui. Eu gosto do Flávio Gomes.

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