24/09/2007

As Várias Faces de Jackie S. - Face 2: A Irresoluta

Jackie S. sangra na bochecha direita, arranhada pelo tombo do alto do muro de suas convicções. Um muro de plumas e penas de ganso e nuvens de dia de céu claro. Jackie S. carrega no peito uma bússola que, estranhamente, afirma que o Norte é para cima e o Sul está abaixo dos seus pés (só que um pouco mais à esquerda), e por isso tem vontade de fazer de tudo ou muito de quase nada, muito bem feito. Houve um dia, incerto tempo atrás, que Jackie S. tinha os olhos menos cinzentos e um pouco mais verdes com pitadas de cor-de-rosa. E, nesse meio-inteiro tempo, Jackie S. sabia que pensava saber que todo vôo é bom, aterrisagens é que machucam os tornozelos. E Jackie S. voava, levando no rosto a brisa da noite e carregando nas pequenas asas que cresciam em suas costas gotas de orvalho com cheiro de alfazema, e assistindo às dores do mundo com a alma translúcida e deixando, no céu, um breve rastro, esverdeado como um adeus dado ao meio-dia numa esquina qualquer. Jackie S. resolve ser adulta como tanto pedia o pai que nunca teve. E prova seu próprio sangue para saber se ele tem gosto de coca-cola, como num livro lido antes das chuvas. Mas descobre que seu sangue tem apenas gosto de dor (que, pelo menos e graças a Santa Madalena de Tegucigalpa, não é de amor). E Jackie S. observa os entulhos daquele muro que um dia foi seu lar, e percebe: apesar da aparente montanha de lixo a ser removida pelos seus glóbulos de todas as cores, tudo vai dar certo. Basta escolher o caminho que, bem à sua frente, se abre em doze. Jackie S., só pra relaxar, canta enquanto rodopia (como sempre faz quando não tem certeza de ter alguma certeza): "perhaps, perhaps, perhaps".

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