21/09/2006

A Vida Como Ela É

Tenho certeza que se Nelson Rodrigues fosse vivo ia ser louco pela Internet.
Ele, que dizia achar a televisão algo afrodisíaco e ser transcendente estar em contato com oitocentas mil pessoas de uma vez, certamente ficaria fascinado pela rapidez com que tudo acontece, todos os crimes são desvendados, todos os amores são expostos e todas as banalidades se tornam, instantaneamente, fatos relevantes e assunto de todas as rodas, em todas as classes sociais.
Nelson foi, entre tantas coisas, o cronista das paixões avassaladoras, do passionalismo desenfreado, do amor que grita, dos amores subterrâneos. Nelson dizia acreditar em amor eterno, e que se não foi eterno, não era amor. Para ele, amor que acaba nunca foi amor e, sim um outro sentimento. Chamado de pornográfico, Nelson Rodrigues se dizia um romântico, mas com seu realismo, afirmava: “em amor, ninguém tem o direito de exigir nada. O que não se pode, não se deve, é exigir nestes termos: dê-me seu coração, ou dê-me sua vida, ou dê-me sua liberdade. Temos que esperar que a criatura amada faça isso por inteira e exclusiva conta própria”.
Pois Nelson iria se esbaldar nos tempos de hoje. Somente nos últimos dias, três casos desses, que envolvem corações apaixonados e desvarios românticos, não só mexeram com nossa imaginação como, além de tudo, se tornaram fenômeno na Internet. Três casos que são, sem nenhuma dúvida, absolutamente rodrigueanos, e que nos fazem perceber ainda mais claramente que Nelson era, acima de tudo, um gênio na observação do amor. Daria uma peça em 3 atos. Primeiro, Wlilliam Waack, o jornalista da toda-poderosa Rede Globo, chutou o balde: ao receber um prêmio, em público, e na frente de seus pares, declarou seu amor pela colega, a linda moça do tempo Fabiana Scaranzi. Dizem, nos bastidores, que o “caso” (palavra bem rodrigueana) acontecia há tempos. Waack, movido por algum sentimento que só Nelson poderia descrever (talvez, uma briga entre os amantes e uma provocação do tipo “só volto se você me provar o seu amor”), deu uma banana para as conveniências e se derramou para Fabiana. Lindo. E, no dia seguinte, a esposa de Waack pediu o divórcio. Imagine Nelson contando a cena da esposa no escritório do advogado.
Depois, o coronel Ubiratan. O homem que comandou a invasão do Carandiru com saldo de 111 mortos e se colocava como o mais macho dos machos, foi assassinado. Com um único tiro, na barriga. Seminu, enrolado em uma toalha branca. A principal suspeita é sua namorada, 23 anos mais nova. A suposta pivô, uma delegada federal de 25 anos, quase 40 mais nova que ele. Um mistério rodrigueano. Best-seller, sem nenhuma dúvida.
Agora, Daniela Cicarelli. No balanço do mar. Em uma espécie de dança do acasalamento marinha, praticamente com transmissão ao vivo, via Internet. Dando todo o carinho do mundo para o seu (dela) namorado. No mar. Em público. Na Espanha. Com o detalhe de que nada no tal vídeo é completamente explicito e, assim, nem deixa de ser bonito. O que diria Nelson?
Durante três semanas, vou brincar de Nelson Rodrigues. Três colunas, três histórias de amor. Não espere muito. Não sou Nelson Rodrigues. Mas, como ele, acredito em certas coisas. Como ele, “Sou uma das raras pessoas das minhas relações que acredita no amor eterno”.

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