01/08/2006

Carta ao Arqueólogo do Futuro

A Agência Carta Maior está publicando cartas de diversas personalidades a um suposto arqueólogo do futuro que, anos e anos láááá na frente, se disponha a remexer o passado em busca de respostas sobre nosso modo de vida e de pensar o mundo. O resultado?
Muitos bons textos, de muita gente boa: Luis Fernando Veríssimo, Moacir Sclyar, Eduardo Galeano, Ferreira Gullar, Chico Anysio, Viviani Mosé, Frei Beto e várias outras cabeças geniais. Para ler os textos, CLIQUE AQUI.
Veja trechos da carta de Niéde Guidon. ]
Isso, ela mesma, uma arqueóloga do presente mandando uma carta para o arqueólogo do futuro. Ela abriu a série.

"Meu caro colega, mesmo não sabendo como você é - talvez uma máquina inteligente -, escrevo-lhe como se estivesse dirigindo-me a um Homem. E escrevo-lhe com a emoção de um Homem. Um Homem desse início de século que nos abriga. Caso encontre dificuldade em entender-me, tenho certeza de que poderá recorrer a sofisticados dicionários, a sofisticados programas para computador, que lhe permitirão descobrir o sentido exato das minhas palavras".

"Destruíram, meu caro colega, a beleza do mundo, o prazer da vida. As primeiras sociedades humanas, pouco numerosas, eram solidárias. A generosidade da natureza podia manter todos saudáveis. As sociedades humanas no início desse nosso século são compostas por bilhões de pessoas. Sociedades, na sua grande maioria, doentes, solitárias. A natureza foi destruída. Todo o alimento tem de ser comprado. A água tem de ser comprada. Os dons da natureza, hoje, têm seus donos: o Poder. O Poder, sob suas inúmeras formas. A competição é a regra da vida, e todos os Homens, mesmo sem ter consciência, odeiam seus semelhantes, potenciais competidores. E a eles atribuem a culpa de não poderem viver melhor".

"Nesse instante, caro colega do futuro, estendo o meu olhar pelo vastidão do que ainda é um pedaço do paraíso - um pedaço do paraíso chamado Serra da Capivara -, que Poderes nada ocultos insistem em ignorar, em destruir, e entrego-lhe este texto para que continue a contar como prosseguiu a nossa história, a história de todos nós. Uma história que, por séculos e séculos, tem sido de amargura, aflição e terror."

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo texto de Niede Guidon. Ótimo tema "o arqueólogo do futuro". Péssimo mesmo é a autoflagelação homem-natureza que cria tanto pessimismo. Caú Duarte.