24/07/2006

Farinhada de domingo

O Rock Errou

Essa semana cheguei a uma conclusão. O que não quer dizer nada, já que minhas conclusões costumam ter a profundidade de um umbigo mal cicatrizado. De qualquer maneira, cheguei.
Palco de show não é lugar de emitir opiniões. Artistas devem ter opiniões e posições, sim, como todo mundo com um mínimo de senso crítico. Mas palco não é lugar de emiti-las, a não ser por intermédio de sua arte. Quando um artista tenta expressar suas opiniões por outro meio que não seja o seu ofício, acaba ficando ou chato, ou inconveniente, ou com cara de mané.
Dinho Ouro Preto manifestou publicamente sua opinião sobre os políticos. Mandou que todos fossem à &%@$#@ e pregou o voto nulo. Dinho Ouro Preto é bacana. Meio xexelento, mas legal. Adoro seu som, gosto do Capital Inicial, gosto de estar nos seus shows, desde os anos 80. Mas suas opiniões, ou melhor, a maneira como ele as coloca no meio dos shows são, no mínimo, constrangedoras. Ano passado o moço disse para os filhos mandarem os pais para o mesmo lugar onde mandou os políticos esse ano. Dinho perdeu uma boa oportunidade de ficar calado em ambas as ocasiões. Não que os políticos não mereçam ou, até mesmo, um ou outro pai e mãe. Não que ele não tenha o direito de anular o seu/dele voto. Problema dele. É a opinião dele, e deve ser respeitada. Mas isso foi, no mínimo, pouco inteligente. Deselegante. Chato, mesmo.
Falcão, do Rappa, foi outro. Duas pisadas de bola: assim como Dinho, mandou os políticos irem à tonga da milonga do cabuletê. Bem, mandou para outro lugar, mas digamos que foi isso. Não que a grande maioria não mereça, nem que a gente não compartilhe dessa opinião. Mas porque não aproveitar a oportunidade e protestar só com sua música, sua atitude, a atitude de sua banda que apoia comunidades, que prega um monte de coisa bacana? Precisa ser grosseiro desse jeito, Rappaz? Outra coisa: até levei um susto com o recado que ele mandou aos críticos e, em particular, à revista Veja. Que é isso! Caramba, vai lá, solta uma ironia e pronto: vai tocar e cantar, ora bolas. Essa é sua arma, esse é seu instrumento. Para mim, já foi o tempo em que protestar era dizer uma saraivada de impropérios em público. Isso é falta de educação, e pura bobagem. Não apaga a imagem que tenho dele. Mas que me incomodou, incomodou. Sei lá se, agora, ele vai me mandar pro mesmo lugar. Azar o dele. Continuo sendo fã. O que não me impede de emitir a minha opinião sem xingá-lo, e pedir pra não fazer mais isso. Até porque como alguém pode pedir mais educação sendo tão mal-educado?
Exceções existem. E me cativam. Bruno Gouveia, do Biquíni Cavadão, é exemplar. Dá recado, eletriza o público, esbanja energia e se posiciona. Até fala palavrão, isso não me ofende em nada. Porque, assim como o silêncio na música, o palavrão precisa cumprir uma função. E ele consegue isso. Palavrão mal colocado é uma merda. Palavrão bem colocado é foda. Viu? Se ofendeu? Acho que não. É assim que ele faz.
Raul Cortez. Um que sempre se posicionou na vida. Nunca o vi berrando palavrões em lugar algum. Nem chamando críticos de filho da piiiiiiiiiiiiii.
Elegante, educado, sóbrio, crítico, politicamente atuante. Sem precisar berrar impropérios nos nossos ouvidos. Fino. E vai deixar saudades. Mas é isso aí.
Bom domingo.

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