Não é algo exatamente original afirmar que, de alguma forma, nós, publicitários, somos uma versão sofisticada, revista e atualizada dos antigos sofistas. Aliás, não custa lembrar que as palavras "sofística" e "sofisticada" têm a mesma origem, do grego "sophistezai", que significava "ficar sábio", "enganar". Mas, com o tempo, sofisticar, que significava "complicar", "retirar a naturalidade", passou a ser usado no sentido de "destacar pelas finas qualidades". Mea-culpa, mea-culpa, mea máxima culpa. Os sofistas gregos eram homens sábios e talentosos que, por interesse financeiro, usavam de sua sabedoria para ensinar aos interessados em ganhar projeção na então iniciante arte da política, com o uso da dialética e da persuasão. Górgias, um dos mais significativos representantes dos sofistas gregos, dá um bico na moral e ensina que é preciso vencer o adversário, seja a causa justa ou não. Declara que sua arte produz a persuasão que nos move a crer sem saber, e não a persuasão que nos ensina sobre a natureza do que se pretende saber. Parece complicado? Não é. Quer dizer, em linguagem de gente, que um sofisma é uma verdade montada para vencer e convencer alguém. Não uma verdade palpável e concreta.
A propaganda, de certa maneira, inseriu, em sua conceituação, procedimentos éticos e morais que, mesmo fazendo dela algo que lembra a sofística, a afasta do lado negro da sabedoria. Mas ainda é parte integrante da propaganda, de forma subjetiva, o conceito de que é preciso destacar o lado bom das coisas a serem divulgadas e, se não mentir e esconder, tornar irrelevante o aprofundamento sobre um objeto, já que, a princípio, tudo pode ser contestado. Isso nos faz um símbolo da nossa era. Simplificamos ao máximo conceitos, criamos em frases simples e curtas verdades que são aceitas por milhões de pessoas por conta da repetição da mensagem, da força da televisão e da "mídia" que, hoje, é mais do que algo abstrato e conceitual: é tão presente e poderosa que imaginar que ela não está por aí é como acreditar que, por não podermos ver o ar, ele não existe.
Mas é preciso cuidado. A simplificação de conceitos e verdades pode levar a erros banais. Os deslizes de nosso presidente parecem ser um exemplo de como a simplificação exagerada pode levar a afirmações que beiram o ridículo. Talvez assessorado por algum neo-sofista/marketeiro, Lula afirma que o brasileiro paga juros altos por não ter coragem de levantar o traseiro das cadeiras dos botequins para procurar juros mais baixos. Não apenas foi deselegante e deseducado como criou algo próximo de um sofisma. Aliás, de baixíssima qualidade. Culpar a preguiça e as partes carnudas e globosas dos brasileiros pelas taxas que o próprio Governo Federal estipula e que estão entre as mais altas do mundo beira a irresponsabilidade. Não me parece que haja uma relação direta entre bundas e juros, a não ser a cara que a gente faz ao pagar nossas contas ou o aparente eterno desejo dos governantes em botar algo em algum lugar do povo.
Lula, o meu Presidente, precisa parar de querer jogar para a platéia e ver se, de uma vez por todas, bota o dele na cadeira e vai arrumar um jeito de se aprofundar nessas questões para poder dizer coisas mais sensatas. Ou, então, o dele é que vai acabar descobrindo o que é levar uma "pezada" do povo brasileiro.
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Um comentário:
necessario verificar:)
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