20/04/2005

Mas Será o Bento ou o Benedito?

O novo papa já chega mostrando que tem capacidade para ser um dos mais polêmicos de toda a história: afinal, seu nome será Bento ou Benedito?
Nem todo mundo ficou satisfeito com a escolha de Joseph Ratzinger para o próximo pontificado. Mas alguns bateram palmas. Chico Bento jogou o chapéu para cima e deu um beijo na Rosinha: agora vai ter um homônimo famoso. Rubens Barrichello adorou e, ao que tudo indica, vai pedir a interferência da Ferrari para uma audiência com o novo Papa. Pretende beijar a mão de um alemão sem que isso levante nenhuma suspeita de maracutaia ferrarista.
Brincadeiras à parte, o certo é que Ratzinger, ou melhor, Benedito, ou melhor, Bento XVI, já chega causando arrepios. Primeiro, é alemão. Um alemão que, obviamente, não bebe. E um alemão que não bebe é, no mínimo, algo que deve provocar alguma suspeita. Em sua biografia consta uma passagem pela Juventude Hitlerista, uma organização paramilitar dos nazistas alemães. Mesmo com a justificativa de que tal alistamento era obrigatório e a afirmação de que seu (dele) pai e ele eram contra o nazismo (tanto que o jovem Ratzinger desertou), isso constitui um certo problema na relação com os judeus. Ponto para a polêmica e para os calafrios.
Mas o problema mesmo é na reconhecida postura conservadora de Ratzinger que, acredita-se, deve ser mantida agora que ele se torna Bento XVI. O novo sumo-pontífice coloca-se frontalmente contra os principais motivos de discussões no mundo de hoje. Tido com um dos maiores guardiões dos dogmas do catolicismo atualmente, segundo os especialistas, o Papa Bento XVI declara: "A igreja classifica os casamentos homossexuais como imorais, artificiais e nocivos". Ponto para a discórdia. Outra frase: "A Igreja Católica é a mãe de todas as igrejas cristãs. Por isso, outras igrejas não devem ser consideradas 'irmãs' da Igreja Católica". Mais um ponto para a discórdia. Bento XVI também se declarou contra o aborto, a pesquisa das células-tronco, a eutanásia e, até, contra o rock e a música pop. Afirmou que as denúncias de pedofilia eram uma orquestração contra a Igreja Católica. Enfim, se o mundo queria problemas a serem administrados em uma época onde alguns conclamam as Guerras Santas, está aí um prato cheio deles.
A primeira impressão do novo Papa não pode ser levada em conta. Não parece ser carismático e midiático como João Paulo II que, mesmo conservador, aparecia aos olhos do público com jeito simpático e, até, bonachão. Mesmo conservador, Wojtyla dava a impressão de que era um defensor dos dogmas, mas não um ranzinza, o que amenizava um pouco seu posicionamento. João Paulo II, apesar de suas defesas dogmáticas, abriu conversações com outras religiões e pregou, de alguma maneira, uma postura ecumênica no mundo em defesa dos Direitos Fundamentais do Homem.
Pois aí está o novo Papa. Que, além de todos os desafios que o mundo moderno e seus avanços produzem todos os dias, vai ter de se equilibrar entre seu aparente excesso de Severinismo, ou melhor, conservadorismo, e a necessidade de integração, de compaixão e de entendimento entre os povos, independentemente de sua crença. O mundo espera que ele não seja tão fechado e ranheta quanto estão pintando. A paz agradece.

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