Fritz Karl Vatel era suíço e "chef" particular do Príncipe de Condé, senhor do Castelo de Chantilly, a 35 quilômetros de Paris. Diz a lenda que Vatel, exímio cozinheiro, batendo com uma colher de madeira o gorduroso leite da região e adicionando açúcar e baunilha, inventou o maravilhoso creme de chantilly, servido a partir de então como iguaria sofisticada e de inigualável sabor. Mas Vatel, porém, não teve lá um fim muito, digamos, saboroso. Desesperado por um atraso na entrega de peixes quando preparava um banquete em homenagem a Luiz XIV, Vatel, o responsável pelo menu, suicidou-se, atirando seu corpo contra uma espada.
Ronaldo e Daniela se "casaram" neste mesmo castelo, onde se matou Vatel e onde foi criado o creme chantilly. Nada mais adequado, como se vê hoje. Afinal, ao que tudo indica com a tal separação dos dois depois do mais badalado casamento dos últimos anos, o amor deles é o que podemos chamar mesmo de "amor chantilly".
Quem já comeu um bom chantilly sabe que a primeira colherada traz um sabor desesperadamente bom. É uma experiência quase sublime: um creme macio, adocicado, de textura impossível de descrever, toca a língua da gente e nos deixa quase que em estado de êxtase. O mundo parece parar. É uma sensação de imortalidade e de superioridade. Naquele momento, no exato instante em que aquele pedacinho de nuvem açucarada e úmida entra na nossa boca, a vida parece ganhar um sentido. E a gente quer mais e, como sempre que se depara com algo extremamente bom, existe certa dificuldade em achar a medida das coisas. E vamos nos lambuzando de chantilly. Mas, aos poucos, a aparente sofisticação do creme vai sumindo. Acostumada à sensação, a língua percebe que aquele creme divinal nada mais é do que creme de leite, com certa gordura e um pouco de açúcar. Em seguida, fica sem graça, um creme qualquer. Sem gosto. Comum. Enjoativo, até. É por isso que dificilmente alguém come chantilly puro. Normalmente ele vem acrescido de morango, de pêssegos ou até de chocolate. Porque, puro, o chantilly fica repugnante em pouco tempo. Assim como o amor, o chantilly nasceu para ser um coadjuvante, não o astro principal. O chantilly, assim como o amor, não nasceu para ser colocado sob holofotes, porque derrete e vira água, uma estranha e feia água branca, que escorre e endurece em minutos.
Ronaldo e Daniela colocaram seu amor sob todos os holofotes do mundo. E não perceberam que era um amor chantilly, que derreteu e ressecou, e agora deixa um rastro feio e melequento. Ronaldo e Daniela inverteram uma lei universal: não se constrói um amor com festas em castelos, muito menos castelos de chantilly. Podemos construir castelos fazendo, do amor, uma festa. Além disso, festas de verdade não precisam de barulho. Muito barulho é, apenas, balbúrdia. A festa do amor não precisa de holofotes. Não precisa de gritaria. Não precisa de alarde, nem de pompa nem circunstância. O verdadeiro luxo e requinte do amor está no silêncio, e Mário Quintana resume: "Se tu me amas, ama-me baixinho. Não o grites de cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos".
Ronaldo e Daniela, pelo visto, nunca leram Mário Quintana.
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Um comentário:
Adorei seu jeito de escrever... É um modo suave e inspirador! Acho que vou acompanhar seu blog agora! ^^ Parabéns
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