Autobiografia não autorizada de Maria Quem – Tiro 5
Quando minha mãe acordou, deu de cara com o mar. Era um mar verde, que refletia o sol e tinha lá no fundo uns barquinhos de velas brancas que levaram minha mãe pra longe, longe. Era o mar dos olhos do meu pai. Meu pai arreganhou de novo o sorriso, e dessa vez minha mãe não desmaiou mais. O que ela fez foi segurar o pescoço dele e antes que ele pudesse desfazer o sorriso ela puxou o mar pra bem pertinho dela e fechou os olhos e descobriu que tem beijos que fazem estourar muito mais foguetes do que trepar. Minha mãe naquele dia descobriu que é por isso que puta de verdade não beija na boca. E nunca mais beijou ninguém que não fosse meu pai. Minha mãe e meu pai começaram a namorar. Meu pai ia toda noite na Passarinha. Só que nunca comia minha mãe. Porque ela era puta mas era uma puta direita, e disse que com ele só depois de casar. Porque era puta por profissão, não por amar. E meu pai e minha mãe ficaram assim: minha mãe trepava não sei quantas vezes por dia pra pagar a morada na Passarinha, mas se guardava pro meu pai e dizia que ia casar virgem com ele porque a virgindade não fica no meio das pernas mas num cantinho do coração. E meu pai comia todo dia uma mulher da Passarinha mas dizia que trepar é uma coisa, amar é outra coisa e que ele amava ela como se ela fosse um pedaço dele , como se ela fosse o ar que ele respirava, como se ela fosse a única mulher na face da Terra. E assim foi por oito meses, seis dias, quatro horas, trinta e dois minutos e dezenove segundos a partir do momento em que minha mãe, Edilene, mergulhou pela primeira vez no mar dos olhos do meu pai, Onofre.
Pra nunca mais voltar.
Gosto muito dessa filha da puta!
ResponderExcluirDeliciosamente poético...
ResponderExcluirwww.odamae.zip.net
que maravilha... adorei descobrir essa límpida farinhada. e obrigada pelo comentário. beijos
ResponderExcluir