Confesso duas coisas: a primeira, que continuo achando nosso astronauta com a expressividade de um tomate. Tudo bem que o cara tem jeito de bonachão, é inteligente, graduado e preparado. Mas continuo cismado que ele não tem cara de herói, por mais que queiram fazer, dele, um. A segunda confissão: quarta-feira acompanhei pela tv o lançamento da nave Soyuz, bebendo refrigerante e comendo sanduíche, com uma sensação engraçada: de certa forma, me emocionei. Brasileiro é mesmo um tipo muito estranho. O cara vai passear no espaço às nossas custas, aparece dando tchauzinho pra câmera, apontando a bandeirinha do Brasil no macacão e a gente se emociona, bate palmas e comemora e enxuga uma lagriminha que insiste em cair do olho esquerdo. Magias da mídia.
Sim, ele vai passear por lá. Porque em uma semana, pelo que os cientistas andam dizendo, não dá para fazer nenhum experimento significativo, que compense o investimento. Na noite do lançamento vi a entrevista de um desses figurões aí que disse, claramente: o investimento é muito maior na imagem do Brasil do que, propriamente, em avanços científicos. Porque mostra nosso tomate espacial ao lado de um americano e um russo. Quer dizer: estamos pagando 30 milhões de reais pra ter a bandeirinha do Brasil na fuselagem da nave, um caroneiro sorridente e a sensação de que, levando para o espaço uma camisa da Seleção e um chapéu ridículo igual ao do Santos Dumont, entramos na era espacial.
Curiosa a bagagem do nosso astronauta. Tem a camisa da Seleção, o tal chapéu, fotos de família, selos, camiseta com o rosto de Yuri Gagarin, pins metálicos, dois cds (aliás, espero que um seja da banda Calypso e ele esqueça por lá), retrato de Jesus Cristo (quem fotografou Jesus, pelo amor Dele?) e duas bandeiras do Brasil: uma grande e uma pequena. Não vi nada oficial sobre que tipo de experimentos ele vai fazer por lá. Mas, pelo que andaram dizendo por aí, ele está levando uma caixinha de O Pequeno Cientista, e vai tentar descobrir o que acontece quando se tenta fazer Sangue do Diabo na gravidade zero. E também saber se milkshake de ovomaltine tem o sabor modificado quando se está em órbita.
Senti falta, na bagagem do nosso astronauta, do grande símbolo brasileiro de hoje em dia. Ele podia levar uma foto de uma pizza. Seria muito melhor do que levar a camisa da Seleção, até porque ele pode ser um pé-frio danado e fazer o Ronaldo ter outro piripaque. Talvez, com uma pizza colocada em órbita, a contribuição fosse muito maior. Ainda mais se ele ensaiasse uma coreografia, como a da deputada sei-lá-quem, que deu a sambadinha no plenário da Câmara. De qualquer maneira, estamos todos aqui, torcendo para que o astronauta brasileiro volte para casa, para sua família, são e salvo. E não podemos nos esquecer que Marcos Pontes escreveu seu nome, na história oficial, como o primeiro brasileiro a ir para o espaço. Sim, na história oficial.
Porque os brasileiros estão indo para o espaço há muito tempo. Desde 1500, para ser mais preciso. É isso aí. Brasil!
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