Thomas More apresenta Utopia como uma ilha, um lugar, um país onde a sabedoria e a felicidade do povo existem, pois nesse país há um sistema legal, social e político perfeito, dirigido pela razão. A Utopia é um lugar que fica na linha exata onde o céu se encontra com a terra: no horizonte. Porém, se damos um passo em direção a Utopia, ela se afasta um passo de nós. Se damos cinco passos, ela se afasta cinco passos. Se corremos, ela parece se distanciar na mesma velocidade e em direção contrária. Então, para que serve a Utopia se, por mais que se caminhe, nunca se chega a ela? Simples, diz Fernando Birri: serve para nos fazer caminhar até ela.
O Brasil Perfeito é uma espécie de Ilha da Utopia. Quanto mais caminhamos e tentamos chegar a ele, mais ele se afasta. O Brasil Perfeito não existe. E nunca vai existir. O Brasil Perfeito se encontra no sentido original da palavra utopia: "em lugar nenhum". O Brasil Perfeito é uma utopia na concepção moderna da palavra: uma quimera, uma fantasia, uma coisa irrealizável. Essa confusão toda de Brasília serve, mesmo que nem tudo seja verdade, para nos mostrar que o Brasil Perfeito nunca vai chegar. Para nos mostrar que não adianta esperar um partido perfeito, nem um presidente perfeito, nem uma oposição perfeita. Não existe um sistema perfeito, nem um salário-mínimo perfeito. Não podemos esperar uma escola perfeita, nem uma saúde perfeita. Não há como ficar esperando e caminhando com os olhos no amanhã perfeito, na justiça perfeita, na polícia perfeita, na seleção de futebol perfeita. Não podemos esperar nem mesmo mocinhos perfeitos, já que o mocinho da vez, como quase todos os que já surgiram, tem o pé na lama e dorme no covil do bandido, agarrado ao produto do roubo e, portanto, não é confiável. E o que fazer? Desistir?Às vezes é essa a sensação que nos dá esse país. A de que talvez seja melhor desistir e irmos cuidar dos filhos, de casa, de nossos cachorros e papagaios. E esquecer aonde vivemos e quem somos. Mas, se não vai existir nunca o Brasil Perfeito, será que não podemos, pelo caminho sem fim que leva a esse impossível Brasil Perfeito, deixar para os nossos, pelo menos, um Brasil Melhor?
Sartre, o aniversariante ausente da semana, afirmava entre tantas coisas, com o existencialismo, que não interessa as causas que nos levam a ser o que somos: nós mesmos somos os principais responsáveis por sê-lo. O Brasil precisa descobrir quem é, e deixar de querer ser, ou de dizer que é assim porque foi assim sempre. É preciso fazer, dos limões que temos, tão azedos, uma boa e refrescante limonada. Este é um país perfeitamente imperfeito. Assim como todos os outros. Não adianta esperar que uma ou muitas CPIs mudem o Brasil. O Brasil, que somos nós, é que deve mudar o Brasil. Chega de esperar salvadores ou de ficarmos, em frente à TV, nos deliciando com espetáculos onde, no final, a nossa é de mussarela. É melhor a gente mesmo construir o Brasil que é possível. Esse que está aí não é o nosso. Nós também não somos um povo perfeito, mas podemos fazer melhor. E bem depressa. Porque o trem que leva para Utopia não vai passar. Pode ter certeza.
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Um comentário:
deu uma olhadinha lá na margarida? :) abraços.
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